Encontro uma frase incompleta. Esquecida, interrompida, não se arremata e a inexistência de conclusão atiça todo tipo de especulação. Imagino um fragmento perdido, existente ao menos por um instante na cabeça do escritor e agora irremediavelmente irrecuperável, haja vista o tempo transcorrido. Mal a cena se insinua pintada com luzes, talvez por um ocaso distante, talvez apenas pelo devaneio de horizonte nos reflexos, refrações e difrações da borda de uma taça de cristal, ou melhor, de vidro mesmo, vagabundo, a propiciar efeitos de contraluz mais espalhafatosos. Posto o cenário, emerge a presença humana, afloram vestígios de sofrimento entre reminiscências de um passado incógnito ou alguma personagem não sabida... Tudo parece possível! A incompletude da frase a espraia como largo delta fluvial e multiplica possíveis desfechos para a arrematar... Por um momento, parece encaminhar um melodrama no estilo das canções de Piaf... Não, antes celebraria apenas o espetáculo luminoso de cores intensas, rasgadas por lâminas ofuscantes de luz, mas... há lágrimas engolidas? Quem estaria a sofrer (ou sofrera)? Embora existam lágrimas de alegria a transbordar emoções, estas não se engolem, vazam a lavar tudo por dentro e por fora... Ademais, tem um carrossel ali, felliniano, a clamar por um fundo musical de Nino Rota. Sim, um carrossel dos sonhos, se diz, onírico como Fellini! E conforme se ampliam as possibilidades, mais se faz urgente pôr logo às claras a origem, a frase inacabada: "O efervescer de luzes a girar e estourar no horizonte não é a borda de teu copo de espumante, que oscila e treme ante olhos por tudo baços, pela névoa do tempo, pelo véu da longevidade, pelas lágrimas engolidas, não fervilham no horizonte de teu tempo as luzes do carrossel dos sonhos onde os mais " E você, como a terminaria? |
Mon, 15 Aug 2016 09:56:28 -0300 "O efervescer de luzes a girar e estourar no horizonte não é a borda de teu copo de espumante, que oscila e treme ante olhos por tudo baços, pela névoa do tempo, pelo véu da longevidade, pelas lágrimas engolidas, não fervilham no horizonte de teu tempo as luzes do carrossel dos sonhos onde os mais improváveis devaneios perdem sentido e forma. Lembranças são como as pequeninas bolhas na taça, que sobem à superfície para se misturarem ao ar que respiras e que te mantém vivo" Genial! Mon, 15 Aug 2016 11:47:26 -0300 não saberia como, complexa demais pra minha escrita ;) sem assinatura Obrigado. Tue, 16 Aug 2016 20:21:33 -0300 Claro que também fiquei curioso pra saber como combina, né? sem assinatura Não apareceu, pois creio nunca ter sido concluída, mas um grande amigo, o Ebert, arrematou brilhantemente a frase inacabada. Veja acima. Wed, 17 Aug 2016 16:56:10 -0300 Que delícia reencontrar esta arrebatadora canção sem assinatura Também a mim arrebata, esta e outras canções dela, a insuperável Piaf. Fri, 19 Aug 2016 17:15:00 -0300 onde os mais ... prolixos adjetivos se alternam em dança ortográfica que derrama pela borda do inexistente copo por onde verve e goteja a gota milagrosamente translúcida e perene quado encontra a indescritivel efervescência do liqudio gotejante espumoso como onda marinha cor de âmbar que contém tantos fósseis da existência que somos todos nós e ainda seríamos se possível fosse nossos próprios reflexos num espelho que não se quebra mas reflfete dez mil miríades de luminiscênica anti-antagônica e revela senão o filme ao menos o fim de uma frase incompleta sem assinatura Perplexo, escuto cada bolha dessa taça aflorar e pipocar qual nota certa de improvável melodia a provar e provocar, de repente, um fértil repentista a dirigir como maestro, se não o filme, a oração acabada agora com perfeição... |
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