A água leva cinco ou seis minutos até a ebulição, ou quase, pois se recomenda usá-la pouco antes deste ponto. Derramada sobre os quarenta gramas de pó, no coador de papel - por que o chamaria de filtro, depois de conviver tanto tempo com coadores de flanela branca quando virgens e que, pouco a pouco, adquiriam uma bela cor ocre? - derramada, dizia, escorre já café no bule metálico, com som característico, ao qual me referia, em passado distante e tom de brincadeira: vamos, já ouço o xixi da Izabel...
Izabel, é óbvio, era nossa cozinheira. Usava o mesmo bule e muito mais intuição. Não media com balança de precisão o pó. Eu o faço por estar ali a balança de laboratório, escolada no preparo de reveladores, fixadores e banhos de viragens de diferentes cores e, também, pelo gosto de ver o equilíbrio entre as partes apontado pelo fiel imparcial. Não me custa nada e lembra as vendas de antigamente, com balança e pesos sobre o balcão da quitanda, do armazém e até do correio. Lembra ainda minha desconfiança quando, do outro lado do balcão, se encerrava a pesagem antes da imobilidade absoluta dos pratos. Aprendi: avalia-se com boa precisão pelos ângulos do fiel em movimento para cada lado da vertical. Esta habita em nós.
Bebo o café devagar e confirmo, vez ou outra, a veemente repulsa do cachorro ao cheiro da bebida. Ele detesta café. No início dos anos sessenta, surgiram as cafeteiras onde a água passa, por pressão do vapor, de baixo para cima, através de uma peneira onde está o pó de café.
Um comerciante de Copacabana montou, então, uma vitrine inesquecível, supondo com ela estimular a venda dessas cafeteiras. Arrumou, de um lado, as novas cafeteiras, de vários tamanhos e, do outro, espalhou coadores usados, pó de café e... algumas baratas, mortas, é óbvio, mas intactas. Como disse, inesquecível.
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