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O anfitrião trouxe outra garrafa de vinho e, antes de abri-la, em pequeno discurso sublinhou certas propriedades inigualáveis daquela casta de uvas, o clima ímpar e propício onde cresciam, de aprazível rincão da França ocidental, que visitara há tempos e outras mesmices dos ritos dos novos sacerdotes e devotos de suco de uva fermentado.
Tal o palavrório que, aos desatentos, poderia repetir o milagre e levar muitos ressaltar leveza e excelência da beberagem ainda que não passasse de água, apesar do requinte na embalagem. Nenhum milagre: Lisandro pagara mesmo uma pequena fortuna pelo lote de garrafas, em um leilão em Nova York. As recentes notícias de falsificações em leilões no mesmo local preocupou Lisandro por pouco tempo - era outro rótulo.
era um vinho espetacular, alucinante (ou alucinógeno?)
Até se aposentar, o banqueiro sempre fora circunspecto e de pouco falar. Agora, à medida que seu saldo de dias minguava, permitia-se tais extravagâncias e regava seus momentos com haveres que sempre procurara ocultar. Falava e descobrira que, como qualquer mortal, gostava de conversar. Serviu-se do primeiro gole, encheu com vagar a primeira taça, chamou o mordomo e ordenou que a levasse à senhorita Diana, no fundo do salão...
Depois do licor, veio o café, que não estava à altura da adega e os charutos, ótimos. O luar de meia Lua passou despercebido quando os convidados entre mesuras e palavras de cerimônia se despediram, um após outro. Ao cumprimentar Diana a dona da casa, esposa de Lisandro, percebeu seus braços frios. Só então notou o luar e a madrugada fria. Como ela não tinha agasalho, cuidou de oferecer um, seu e insistiu para que a bela jovem o levasse emprestado.
Após o último convidado, Lisandro fechou a porta, encheu duas taças, ofereceu uma à esposa e falou com voz suave: querida, você devia ter pedido a ela que devolvesse qualquer coisinha mais, além do casaco, meu bem...
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