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Ver e ouvir17/06/03Há uns 15 dias recebi cópia de uma crônica de Veríssimo à qual o remetente original - nunca se sabe o que há por trás de uma mensagem - acrescentou no final: "Lembrem da frase: o homem gosta do que vê e a mulher gosta do que ouve." Pouco me importaram as peripécias de um homem e uma mulher, contadas pelo mestre com elegância, sutileza e deliciosa ironia, quando me deparei de novo com a declaração de que o homem gosta do que vê e a mulher, do que ouve. Um visual, outro... cerebral! Sim, sublinhar que a mulher gosta do que ouve não implica elegê-la musa preferencial da música e poesia, meio cega e toda ouvidos, pronta a se derreter com acordes mais pungentes ou desmoronar aos versos de métrica e rima arrebatadoras. Há mais no gostar de ouvir. Ali, arrisco o palpite, é saber dar atenção ao que se diz, ser capaz de ir além das palavras e teorias e ser capaz de transformar em vivência toda oportunidade. Há, é óbvio, mulheres muito musicais, como homens. Aparentemente, existe até certa inflação de cantoras, mas isso é outra história. Hoje, quando li aquela advertência, me pareceu claro que o gosto feminino diz respeito às palavras que se ouvem, ao conteúdo do discurso. Seria uma questão de cuca, não de ouvido apenas. Todavia, para sair vencedor na conquista de ser tão cerebral o homem é obrigado a aprimorar argumentação, oratória, eloqüência e todas as qualidades de um discurso capaz de impressionar - aquilo que o povo chama de lábia, cantada. Por seu turno, à mulher caberia, na faina de vencer luta por animal tão visual, dominar a fundo as artes do aspecto, tornar-se artista do próprio corpo. Saber cuidar com mestria de cabelos, pele, unhas e detalhes tão pequenos como cílios e sabe-se lá que mais - quer dizer, ser bela! Sim, os caminhos para as tais "futuras gerações" usam atalhos diferentes para o homem e a mulher... |
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