Qualquer cartilha ensina que Eva viu a uva e vovô veio ver Eva, mas não conta que Vera tímida, miúda, magra demais e sem dotes atléticos explícitos, logo virou Verinha.
Pequena, ninguém a chamaria de Verão, isso não. Mas... veria Verinha verão? Janeiro já se ia e Capricórnio, o dos astrólogos ao menos, já era, embora astrônomos ainda vissem o Sol naquela constelação. O carnaval se fazia ouvir por toda parte, a ruflar caixas e afinar tamborins.
Apesar de alguns dias de azul e de calorão, o que quase todo mundo espera de um verão, à vera, é muito sol, corpos lambuzados de tudo, sol de rachar, corpos à milanesa, sol beleza e cerveja estúpida a suar e babar com céu anil sobre suores humanos que polem e lubrificam belos corpos a espreguiçar, alongar e relaxar qual gazelas africanas esguias, esbeltas, morenas, mulatas, branquinhas com gelo e limão em fornadas de cheiros e maresias de ventos de todos os coqueirais onde cantam sabiás, lá, onde cantam umas e outros, pois sabiá é fêmea e varão. E verão, à vera, escorre e sua e mia a minha, a tua, a tia e todos, feito estação de procriação, carnaval a dentro no lugar da primavera de toda bicharada e de generosa florada e da permuta desenfreada de informação onde tanto segredo, de boas novas e alcovas, partilha patrimônios e genes e babas, cada qual segundo sua espécie, em olímpica olimpíada de informações moleculares. E como gente é gente e, por isso mesmo, ainda é muito bicho, disputa-se tudo, sempre a nadar braçadas febris, passadas incertas, enquanto dias se encurtarem e cada manhã chega mais escura. Foi-se 40% do verão. Verão que, por aqui, chove. Pior, chuvisca e relembra a maldição dos demônios, a alcunha quase perdida dessa terra...
Perco o fio no frio! No princípio era a cartilha a omitir Verinha e o verão que todos esperam. Um verão à vera. Verá Verinha verão?
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