autora: Mima 

Virtualidade

09/05/15

Era uma vez uma grande amiga de minha mãe, cujo nome nunca soube por ser tratada sempre pelo apelido, Filhinha, cuja origem também ignoro se tinha, ou não, relação com sua baixa estatura, que se vestia com capricho para assistir a meu irmão na televisão.

Soube mais tarde, ser tal comportamento uma manifestação precoce de algo que lhe comprometeu a saúde mental. De todo modo, ela se gabava de estar sempre elegante para o filho de minha mãe.

Tudo isso me volta à lembrança devido a notícia da Associated Press destacada, hoje, no New York Times, sobre as consequências de novas leis, na China, para facilitar aos cidadãos o acesso à Justiça: um chinês abriu processo contra uma atriz, Zhao Wei, por ela o encarar, através do aparelho de televisão, com muita intensidade.

detalhe da página do NYT online.
detalhe da página do NYT online.

Torna-se cada dia mais interessante a zona de contato entre nosso mundo físico e real com esse outro, da chamada realidade virtual. Faz-se piada das consequências de todos caminharem pelas calçadas, por exemplo, absortos com seus telefones ou pequenos tabletes, a olhar apenas com o rabo do olho o caminho e demais transeuntes.

Contam-se aos milhares os amigos virtuais, muitos jamais vistos além das fotografias e filminhos de redes sociais. Treinamos nossa mente para interagir mais e melhor com aparelhos capazes de nos projetar uma imagem do mundo e ficamos mais distantes do cheiro de terra levantado por um aguaceiro inesperado.

Vemos as crianças dominarem tais aparelhos muito melhor que nós, e cada vez mais, os bebês já mostram uma surpreendente intimidade com os dispositivos eletrônicos. Talvez exista um "saber" coletivo, semelhante ao inconsciente coletivo do Jung, onde a toda sabedoria da humanidade se acumularia e, por isto, seria natural já nascer sabendo aquilo que não sabíamos ao nascer por não existir ainda.

Tue, 09 Jun 2015 12:04:39 -0300

gostei MUITO!!! genial, você diz tudo, sabe se expressar como poucos. adorei a referência ao cheiro de terra levantado por um aguaceiro (dá pra senti-lo só de ler!) em oposição ao mundo das telas em que todos focam.
O nome da Filhinha era Maria Araújo, que eu me lembre, e depois Maria Araújo Vidigal, sobrenome do marido, a quem todos chamavam pelo sobrenome. Nunca soube o nome dele. Ela era louca por abacaxi e o primeiro presente que ele lhe deu, noivos, foi um embrulho com 2 abacaxis e no meio um vidro de perfume. Foi ela que me contou. Ela respondia ao boa noite do Cid Moreira no Jornal Nacional e não trocava de roupa na frente da TV ligada pois iriam vê-la.
Obrigada pelas memórias também.

Sempre achei que Vidigal fosse primeiro nome! Ela era uma figura, divertida por seu jeito de ser. Também não esqueço uma noite, ao ficar morando uns dias lá em casa, quando surgiu uma pequena mariposa na hora do jantar e ela fez tremendo escândalo e saiu com seu prato de sopa por achar que as mariposas sempre caíam em sua sopa...

Tive aulas de teoria musical com ela.


09 Jun 2015 11:09:04 -0700 (PDT)

isso dah medo e tristeza
coisa de velha de outra geracao, provavelmente
perder o contato com a natureza e os seres humanos eh triste, eu acho

Somos testemunhas de tudo isso, não?


Tue, 9 Jun 2015 18:13:05 -0300

Os riscos:

https://www.youtube.com/watch?v=ddRiUKI71bg

https://www.youtube.com/watch?v=sDATgh1Iiyc

Abraços

Ebert

Sim, há riscos físicos, capazes até de matar. Estes, todavia, não excluem outros danos ao espírito ou alma ou mente ou intelecto, sei lá.

Obrigado.

Abraço.


Tue, 16 Jun 2015 10:45:58 -0300

A atitude se chama "fieldade". História comovente!!! Engraçada? Bizarra?
Não, mais uma estória, istória, história, hestória ... que nos abastece com a hestória, história...

VIVA A DONA FILHINHA!!!
A fidelíssima Dona Filhinha.

Ameris.

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