Por mero acaso, esbarrei numa página da Internet com dicas sobre páginas da Internet. Parecia interessante e, como quase tudo que se encontra na grande rede de computadores, oferecia algumas amostras grátis dos serviços ali vendidos. Os poderosos computadores deles, lá nos Estados Unidos, poderiam analisar e sugerir correções nas suas páginas, onde quer que estivessem. Entre as opções não pagas estava um boletim enviado por correio eletrônico, uma vez por semana.
Acabo de receber o primeiro desses boletins. A primeira conclusão que se pode tirar, apenas por sentir, é que o e-mail é o grande barato da Internet. Ficar procurando páginas - que, hoje podem ser verdadeiros programas de computador - e esperar que todos os "anexos" sejam processados para que os navegadores possam, finalmente, montá-las e nos mostrar o resultado é muito chato. Haja paciência! Isso, sem falar do risco que se corre de ter a privacidade violada pelos "biscoitos", os tais dos cookies, ou outros mini-aplicativos que se podem embutir nas páginas.
Resumindo: recebi o tal boletim e constatei o quanto é confortável ler informações como aquelas das páginas agatemelê na forma de uma simples carta eletrônica, sem necessidade de estar numa ligação telefônica. Não importa o conteúdo do boletim, trata-se do método de comunicação.
De tudo isso, verifica-se que bicho-homem deixa a marca de seu jeito de ser, não só nas obras ditas de arte, mas em tudo que faz. A Internet começou com o fascínio de alguns estudantes, que descobriram um modo de mandar mensagens de um computador para outro através do telefone - quer dizer, como e-mail. Eles usavam a nova descoberta para poder jogar xadrez. Depois, alguns cientistas se deslumbraram com a possibilidade de deixar disponíveis, para outros cientistas - pesquisadores anônimos escondidos em qualquer rincão remoto - os resultados de suas próprias pesquisas e começaram a construir uma gigantesca biblioteca eletrônica. Eram, no começo, apenas arquivos de texto, com uma meia dúzia de regras muito simples que permitiam embutir no próprio texto os comandos básicos de diagramação - título, itálico, subtítulo etc - e, o coração de tudo, um comando que transformava uma citação de outro documento num caminho direto para o documento citado: o hyperlink.
Daí em diante, as coisas começaram a se complicar. Vieram os gráficos, e as páginas começaram a ter "apêndices". Não era mais um simples texto. Para poder montar a página era preciso dispor do texto e das ilustrações. Uma única página já correspondia a mais de um arquivo. Cada um precisava ser transferido de um computador para o outro pela conexão telefônica. Depois vieram as imagens animadas, que são, na realidade, várias imagens juntas num único arquivo, para serem exibidas em seqüência. Os arquivos ficavam cada vez maiores e o tempo de transferência, também. A solução foi conseguir conexões mais rápidas, e os arquivos puderam crescer ainda mais... Vieram os vídeos e o som, com arquivos enormes e, nos subterrâneos, programinhas nos mais diversos idiomas - java, activex e sei lá que mais. O objetivo principal dessas novas páginas, quase sempre, passou a ser vender alguma coisa: o direito de ver a próxima página, por exemplo. A Internet começou a ser medida pela quantidade de dinheiro que nela circulava.
Por tudo isso e muito mais, que não cabe descrever aqui, por ter tido uma surpresa agradável ao encontrar o conteúdo da tal página na caixa do correio eletrônico, proponho uma experiência: se você quiser, posso mandar a crônica nossa de cada dia pelo correio eletrônico, diretamente para seu endereço de e-mail. Basta pedir.
Publicada em 09 de abril de 1999
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