fotografia de Vicente Kubrusly

A estrada desconhecida

27/09/17

"Começo, por começar, o primeiro passo da caminhada, mas já sabendo, no fundo, que desconheço a estrada. Diz-me o anjo rebelado: - que temos pra hoje aprendiz? E ri, um riso gelado, que insinua uma diretriz." A frase tem vinte anos e aquele cronistaprendiz se divertia ao hipostasiar o Demônio na cama Patente ao lado de sua escrivaninha, enquanto inventava conversas e outras interações com o hipotético Satanás...

Hoje, repito aquelas palavras, sem Lúcifer ou outro qualquer coisa-ruim, para confirmar a completa ausência de planejamento, projeto, esboço, rascunho ou método na elaboração destas nossas pequenas crônicas de cada dia. Lança-se um aforismo, um conceito, uma sentença - o que for - e se deixa ao Acaso apontar alguma diretriz, confiando nas próprias palavras como adubo bastante eficaz.

Algumas vezes não funciona e, em consequência, restam trechos abandonados, às vezes, um bom começo transformado subitamente num beco sem saída. Seriam como um contraponto salutar para supostas ideias não anotadas e esquecidas, que deixam a estranha sensação da perda de algo sensacional...

Ontem, um músico me falou: o mais difícil é achar o tema, um tema bom e depois rimos ao nos ocorrer, simultaneamente, as quatro notas da Quinta Sinfonia como exemplo de tema singelo e fecundo. Já, contar histórias, descrever cenas vividas ou fatos testemunhados é diferente, pois existe um plano, ainda que não elaborado por nós, e cumpre apenas relatar com as inevitáveis omissões e distorções peculiares do ser humano. Em tais casos, me lembro sempre dos bancos escolares, onde tínhamos de descrever uma cena representada num "cromo" pendurado diante do quadro-negro.

Enfim, sempre se pode engendrar uma "crônica" a partir do nada, sem ter uma história ou existir um testemunho ou, sequer, uma estampa colorida diante do olhar.

Thu, 28 Sep 2017 07:28:44 -0300

Oi, Clôde

Esta vale três vezes obrigada (em letras grandes...): pela crônica e pelos dois links!

“Acaso” me lembrou a definição dada por Jacques Monod (o nome eu tinha esquecido -
tive que achar na internet pelo nome do livro, que eu ainda lembrava: O Acaso e a Necessidade):

Acaso é o encontro de séries causais independentes.

O exemplo que ele dá é o de uma pessoa que sai para ir ao dentista e no caminho
é atingido por uma telha que despenca de um telhado.
Causas: dor de dente, o horário marcado, o caminho escolhido,
o fator físico que fez com que a telha despencasse.

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Quando jovem eu tendia a ver "significados ocultos" nos acasos, sem dúvida uma manifestação de nossa "natureza supersticiosa". Hoje, finalmente, os vejo como meros acasos ou, como acabo de aprender, "o encontro fortuito de série causais independentes".

Pelo que me lembro, Jung emprestava ao acaso um certo "significado místico", não?


Sat, 14 Oct 2017 18:22:02 -0300

Você sempre escrevendo bonito, né`mesmo?, Mermão.
No momento, aqui in Sampa, um fim de dia meio frio agora, depois de uma manhã linda, fiz caminhada, ou algo assim, em fim, com todos os dias, sacudindo o esqueleto de alguma maneira, de preferência na academia. Sim!!, agitar o corpo todos os dias. E isso me dá um prazer enorme. Sempre. Mas você também caminha todos os dias ou quase, né? Isso só faz bem...

      sem assinatura

Sim, caminho todos os dias, ou quase. O que fica parado definha. Caminhar faz mesmo muito bem.

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