'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991] 

Cheiro bom

29/12/08

A segunda-feira surpreende muita gente e se rasga azul de horizonte a horizonte, a confirmar o velho refrão 'céu azul e sol beleza', com um sol forte a arder na pele e um azul imaculado, sem nuvem a lhe pôr senão. Faz-se um dia com sabor especial de férias!

Não férias de trabalho, mas escolares, férias espetaculares revestidas de uma magia que, passada a infância, não mais existiu. Agora, meia-hora antes do sol zenital, pequena nuvem, na certa evaporada há pouco, tolda o brilho duro, bem recortado em sombra e luz, e ameaça como uma nota de tristeza, num tom de mormaço abafado mas, dura quase nada e o sol impera de novo sobre a paisagem. Paisagem sossegada, adormecida pelo calor.

Salvo algumas moscas e borboletas, os bichos esperam em alguma sombra um momento melhor para transitar. Não há latidos nem pios e nenhum avião no ar. Um silêncio estranho se impõe como a luz que arde na pele.

Volta-me a história de um amigo querido que, há várias décadas, me contou expor à luz direta, em seus banhos de sol, a garganta. Contou-me supor tal exposição capaz de exterminar habitantes indesejáveis daquelas profundezas... Só muito depois descobri se esterilizarem as salas de cirurgia com radiação ultravioleta, a mesma barrada pelos chamados filtros solares...

Não existiam filtros solares na época das delícias das férias escolares. Ah, muita coisa mudou neste meio século, um pouco mais! Além do filtro solar, vi surgirem o sabão em pó, o xampu, o desodorante, o amaciante e milhares de outras coisas que Sócrates nunca poderia imaginar. Lembro-me bem de um banheiro espetacular, com banheira de hidromassagem e tudo, na borda da qual se viam dezenas de potes e petrechos a sugerir o banho como uma espécie de cirurgia...

Existia, todavia, o Rum Creosotado com anúncios nos bondes "e, no entanto, acredite", as pessoas cheiravam bem.

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