fotografia de circa 1962.

de esporadicidade imprevisível

Mentiroso contumaz

01/11/18

Um(a) leitor(a) comenta: "muito interessante a observação de que sempre mentimos e de que sempre houve fake news". O comentário fez-me lembrar de uma cena de cinema, derivada de um livro famoso, onde uma dessas mentiras calculadas para provocar uma reação é crucial para a trama e respondo: "Já na história de Drácula, de Bram Stoker, a rainha se suicida por causa de uma notícia falsa da morte de seu marido, e o livro foi lançado ainda no século XIX. Naquele caso, a mentira chegou a cavalo."

A partir daí se estabelece um pingue-pongue - sempre pela troca de e-mails - e o(a) interlocutor(a) pergunta se não haveria também notícia falsa no destino da Julieta de Shakespeare. Sim! Ali também uma mentira provoca o celebérrimo desenlace. Seguimos assim, enfileirando lembranças, todas do mundo ficcional, onde a mentira sempre era decisiva para o desenrolar dos acontecimentos, até chegarmos à astúcia e ao embuste da Serpente, ao oferecer a Eva o fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Seria uma primeira mentira de consequência catastrófica.

Os críticos podem arguir não se tratar, neste caso, de ato humano, por ser a Serpente (ou o Diabo disfarçado de cobra?) um réptil, um animal desprovido de pernas e de ouvidos. O ofídio bíblico está mais próximo ao reino da ficção, pois fala como verbalis à Mulher e usa o verbo para a convencer.

Conquistamos muito mais além de pernas, conseguimos a habilidade da troca de ideias, aprendemos, ao longo das eras, a falar e dar sentido ao que se diz, um aprendizado tão fantástico como aquele testemunhado por quem observa com interesse os primeiros anos de vida do ser humano.

O domínio da palavra nos fez humanos e, com ele, como corolário, nos veio a possibilidade de criar "verdades" inventadas, isto é, mentiras ou ficção. Elas sempre nos acompanharam.

Fri, 02 Nov 2018 15:07:50 -0700 (PDT)

sempre a palavra ...  

Por isto passei a chamá-lo de Homo verbalis...

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