O grande desafio

21/05/07

Frederico chega da escola contente, corre e anuncia aos berros: tirei dez em Matemática! A mãe sorri, o acaricia e desliza os dedos por seus cabelos anelados. O pai, por deliberação, convicção ou formação mantém dura a fisionomia talhada por vida dura também, que o fez de moleque de rua, mestre emérito, justamente, de Matemática, responde ao filho: não fez mais do que a obrigação. É obrigação do aluno tirar dez. Está na escola para aprender, o dez só comprova a missão cumprida.

Já Rubens, ao chegar da mesma classe, se joga no sofá macio, se estica, tira sapatos e meias e apóia os pés na poltrona ao lado. Espreguiça-se e, ao perceber movimento, anuncia sua fome. Responde à mãe, que pergunta por seu dia, que foi tudo bem e conta, entre outras coisas, do dez em Matemática. No jantar, de forma direta, o pai, empresário de vento em popa, anuncia que soube da façanha do menino e que ele, por isto, receberá a próxima mesada em dobro. Sem dar chance a comentários, encerra o assunto: passa a jarra de água...

Rubens e Frederico, como quase todas as crianças, não estão sendo verdadeiramente educadas. Pais, ainda que se interessem pela educação dos filhos, estão eles, pais, 'educados' para educar? Podem conduzir uma criança ao adulto íntegro, independente - não apenas economicamente independente, mas independente para discernir, pensar, sentir etc. - conduzi-la a um adulto lúcido?

Os objetivos da escola mudam e a sociedade também. Aqueles refletem esta. Ouvi notícia no rádio, na sexta-feira, de que o Governo Federal quer pagar cerca de duzentos reais para cada aluno de 5ª série, do ensino público... que for aprovado. Depois, procurei e não achei mais vestígio da novidade.

Quando comentei a história com Tia Sophia, ela perguntou: "mas o que pretendem, introduzir o bê-á-bá da corrupção?"

|home| |índice das crônicas| |mail| |anteriorcarta592 carta593

2454242.771