Outras folhas

10/02/12

Há quatorze anos entoo os mesmos versos das mesmas canções, repito as mesmíssimas citações, inclusive Nelson Rodrigues e sua obsessão com obsessões a nos perseguirem "do berço ao túmulo".

Nesses dias de muito calor, a gravidade e os ventos atapetaram o chão com uma quantidade enorme de folhas precocemente secas, neste verão desidratado e me foi inevitável ecoar em mim a voz de Piaf a repetir que folhas mortas se recolhem com a pá e, daí, à enxurrada dos versos memoráveis de Jacques Prévert, tantas vezes mencionados aqui.

Em uma delas, aludi a uma amizade originária dos primeiros passos deste sítio e, ao comentar a atitude independe e altaneira da leitora e amiga, repeti ainda os versos da suposta canção, cantada pela amada, que também Prévert repete em "Folhas Mortas", para concluir: "vê, eu não esqueci".

Hoje, ao reencontrar esta crônica, espantei-me com a coincidência. Mero acaso, é óbvio, mas sembre bem-vindas obras do senhor do fortuito: amanhã é aniversário desta amiga. Ofereço a ela, pois, a montanha de folhas douradas, que surgirá com a varrição, antes de se desfazerem na mais negra e fértil terra, adubo das próximas gerações de folhas e flores e frutos.

Talvez algum leitor ou, quem sabe, uma leitora encantadora como todas, se inquiete o sumiço das croniquinhas que saíam aqui, apesar de uma esporadicidade progressiva. Então, estendo a todos o tapete macio de folhas mortas - é gostoso e sonoro pisar nas folhas secas.

Que fique este texto pretexto a assinalar uma volta, em um fevereiro de dias quentes e baixa umidade relativa do ar, embora em dias assim não valha à pena ler bobagens de verão. Fique, para a leitora e o leitor que sentiram saudade, mais cedo ou mais tarde voltarão as condições normais - de pressão e temperatura? - não, de tecnologia da informação.

Fri, Feb 10, 2012 at 7:28 PM

o Nelson Rodrigue permanece por ai, hein?
sou ainda e sempre... um apaixonado pelo mestre das verdades familiares - digamos. li praticamente quase tudo - e o quase vai imperar, pois ele escreveu demais, com vários nomes falsos... vaiodoooso...
um mestre!! pego qualquer livro dele e começo a ler, ou as peças... puro prazer, do túmulo ao berço.


bjo

      sem assinatura

li, apenas, tudo que me caiu nas mãos, desde as colunas na "Última Hora" da adolescência...


Sat, Feb 11, 2012 at 12:48 PM

foto da missivista
foto da missivista

Clode

"Outras folhas" foi um agradável retorno de suas crônicas.

Seu escrito me levou a esta foto. Ela me trouxe à lembrança o calor de uma tarde de verão e o ruido áspero provocado por meus pés, sobre as folhas secas do chão.

Beijos da Vera

Quando sua resposta chegou a chuva já mudara tapete e som.


Sat, Feb 11, 2012 at 4:38 PM

Respondo e retribuo a linda croniquinha com os versos da Cecilia Meirelles que me vieram imediatamente à memória :
"Não te aflijas com a petala que voa,
Também é ser, deixar de ser assim (...)
Eu deixo aroma até em meus espinhos
ao longe o vento vai falando em mim
E por perder-me é que me vão lembrando
É por desfolhar-me que não tenho fim."
Rosely Nakagawa

LINDO!
Não conhecia.
Obrigado.

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