autorretrato 

Radicalismo

28/02/19

Em certos aspectos me considero um radical. Evidentemente não pretendo descer de skate a Estrada das Canoas (antigamente usavam carrinhos de rolimã) nem pular da Pedra da Gávea nos braços de uma asa delta, nem alfa ou seja lá que letra for. Meu radicalismo se restringe ao terreno dos conceitos, do modo de ver e, pode-se dizer, da opinião.

Dou um exemplo: sempre achei que a simples existência de "forças armadas" define, inexoravelmente, a predisposição de matar e, quanto a isto sou radical: o "não matar" deveria ser intransitivo. Eu, até mesmo quando mato uma barata ou um mosquito - e os mato, sim! - percebo-me em uma incômoda sensação de incoerência interna.

Por mim, não deveria existir exército, nem marinha, nem aeronáutica em parte alguma. Antes de instituir qualquer força armada, fabricar armas e equipamentos de destruição deveríamos nos perguntar profundamente se queremos matar seres humanos, qualquer que seja o pretexto, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Certamente não se faz a pergunta ou aceita-se a eventual matança de semelhantes com desculpas e pretextos recheados de palavras, prato principal do Homo verbalis. Palavras que, posteriormente, também exaltarão os mortos e lamentarão a carnificina e acompanharão estatísticas de vidas perdidas, de mães e pais enlutados.

Ainda com palavras se releva a importância da "indústria armamentista para o progresso do país", os formidáveis empregos criados por quem se dedica à fabricação de instrumentos de destruição.

As guerras, todas elas, sempre escancararam o lado menos humano da humanidade - ou, advogarão alguns, justamente seu lado humano demais. Vejam os cachorros, já ouço argumentarem, existem há muito mais tempo e nunca dizimaram como nós montanhas de semelhantes.

Face a tudo isto, sou, sim, de certa forma, um radical.

Thu, 28 Feb 2019 11:39:37 -0300

O pior de tudo é que apesar de a hipocrisia ser um mal , ela acabou em relação a este assunto
hoje em dia pessoas humanas assumem sem nenhum resquício de vergonha, querer ter armas , aprovar as guerras e matança de seus semelhantes, expressam seus desejos mesquinhos de matança a céu aberto.
Somos maus.

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Adorei seu comentário!

Muito melhor do que a crônica: sintético, objetivo e explícito.

Sim, somos e sempre fomos, infelizmente.


Thu, 28 Feb 2019 18:26:05 -0300

excelentes argumentos contra carnificna, sejam eles radicais ou não.
Me admirei de ver hoje na TV Globo, que só aplaude presidentes, uma reportagem em que um comerciante foi morto por um ladrão, após ter atirado em outro ladrão (eram dois assanltando sua loja), com a srma que comprou legalmente, tendo feito inclusive aula de tiro. O ladrão sobrevivente, depois de matá-lo e figor, voltou correndo para roubar apenas uma coisa: a arma do comerciante. A matéria termina com o irmão da vítima dizendo: se meu irmão não estivesse armado, nãoteria reagido ao assalto e ainda estaria vivo.

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Acontece todo dia, por toda parte. Está na hora de um novo Sérgio Porto, um Ponte Preta do século 21, surgir para, ao menos, nos divertir com tantos absurdos e tamanha cegueira dos engravatados. O mais triste é existirem gigantescos interesses econômicos por trás da indústria da carnificina, como você referiu, e inúmeros economistas a defendê-la "por razões econômicas".

O óbvio ululante de Nelson, de que a violência SEMPRE gera MAIS VIOLÊNCIA, não salta aos olhos dos tomados pela violência. Ela sempre existe no ser humano, e não nos instrumentos ou instituições.


Fri, 1 Mar 2019 11:32:13 -0300

Leio e releio o que você escreve, ensina. Nunca chegarei perto de cada coisa que você nos ensina... De verdade... Beijo, Mestre permanente...

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Eu te amo!


perfeito muito bom

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Infelizmente, florescem, mais uma vez, por aqui, os treinados para matar...

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