cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Sábados

30/05/15

Sete horas. Uma bruma espessa dá ao dia, que promete sol, cara de inverno. Não está frio nem quente. O médico chega ou sai de casa, de bermudas e o portão elétrico de sua garagem se abre e fecha muitas vezes. Ele entra e sai enquanto o carro, do lado de fora, espera. No meio da névoa passa uma mulher rumo ao trabalho. Parece acreditar no tempo prometido, no dia de sol que o nevoeiro anuncia e desce de ombros e braços de fora, com blusa preta de alça fina e calça jeans clara que destaca seu corpo bem esculpido. Nota que estou no portão, com o rabo do olho, se vira e segue rápida em seu caminhar. Mais ninguém na manhã de sábado, nem pios de passarinho. Apenas um misterioso fundo de grilos a cantar e andorinhas silenciosas que riscam o nada. Passa um avião com grande ruído...

Em um sábado também, dia sete de janeiro de 2006, anotou-se em palavras imagens daquela manhã, em uma rua de poucos carros, de um bairro de poucos ruídos e, mesmo janeiro, com muita bruma. Muito diferente do amanhecer de hoje, a 22 dias do início do inverno, cercado de janelas, como já contei aqui, sem névoa alguma e cheio de sons difusos ou bem definidos. Da Vila Diva para Copacabana, o aprendiz de cronista procura entender a transformação. Apenas uns 380 quilômetros separam dois lugares tão diferentes!

O primeiro parágrafo dormiu nove anos em anotações daquela época, reunidas em um arquivo chamado gaveta, alusão à locução gaveta de sapateiro, definida no dicionário como sinônimo de "desarrumação, mistura de objetos desordenados". Hoje o reencontrei e, por ser também um sábado que, além de sétimo dia da semana, significa igualmente "conciliábulo noturno de feiticeiros", quiça como aquele de hoje, em São Paulo. Com o pretexto do sábado e da bruxaria, aproveito o texto antigo e alinhavo estas linhas.

Sat, 30 May 2015 16:58:47 -0300

Escrevemos o mesmo texto em versões variadas. Revisitamos, remendamos, acrescentamos. Sempre um prazer (re) le-lo.

Grande abraço

Ebert

Obrigado.

É verdade, somos, por isto, obsessivos, como assinalou Nelson Rodrigues.

Abraço, c.


Sun, 31 May 2015 07:01:19 -0300

Gostei muito,Clode! bj

      sem assinatura

Obrigado.


Sun, 31 May 2015 13:12:32 -0300

Delícia, amigo!

Bjs
Ana

Que bom te ouvir! Que bom, gostaste.


Wed, 10 Jun 2015 18:45:49 -0700 (PDT)

da vila diva pra copacabana eh um pulo, ne?
outro mundo hehehe

gostei dessas bruxarias aih, pensando bem, tem isso, sabado, mas nunca ligo o setimo dia com o conciliabulo noturno de feiticeiros
a gente tende a olhar a sexta feira como esse dia noturno, feiticeiros, conciliabulos, nao eh, nao?

to gostando da variedade de desenhos, fotos, etc q aparecem la no inicio

      sem assinatura

Se olhar as crônicas na internet verá que o cabeçalho ilustrado sempre existiu.
Antes era complicado incluí-lo. Quando comecei a enviar, ia apenas o texto, sem formatação.
Hoje, mergulhados na hipotética nuvem, tornou-se um copy/paste simples.

O desenho desta é do Vi, quando tinha oito anos.


Sun, 21 Jun 2015 20:44:11 -0300

nossa, que legal, Clode!!! Só li hoje e fiquei matutantdo, nas primeiras linhas, onde vc estava que via portão de médico abrindo e fechando e que silêncio era esse em Copacabana sábado de manhna, e seria essa mulher trabalhadora do térreo do seu prédio??? Depois foi que entendi tudo. não fazia ideia de que sábado era isso,
"conciliábulo noturno de feiticeiros"

GOsto de sábado. Adorei a crônica. O desenho é do Miguel? Não dá pra ler a assinatura.

      sem assinatura

Do pai dele. Este é um defeito do Safari: não mostra o texto alternativo quando se para o mouse sobre a imagem. Veja no Windows:



Mas este trecho é de uma crônica de janeiro de 2006, Rua Ouro Preto, inverno, um antigo vizinho da Rosa, dono da mãe do Cadu.

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