60 anos
11/10/18
Lembro-me de ter lido, faz muitíssimo tempo, em um dos livros de John Kenneth Galbraith, sobre a inutilidade de ser-se rico sem poder ostentar sua riqueza. Um dos usufrutos do dinheiro é pairar acima dos mais pobres - e podem ser apenas outros um pouco menos ricos! - com demonstrações, em geral com requintes exibicionistas da própria pujança financeira. Entre os exemplos mencionados pelo economista norte-americano, se não me falha a memória, estavam, no início do século vinte, os chapéus-panamá e as bengalas com castões de ouro, prata, marfim etc. Há pouco mais de uma semana, vendeu-se em um leilão, na Escócia, uma garrafa de sua afamada bebida nacional pela ninharia de pouco mais de um milhão e cem mil dólares. Preservou-se o nome do comprador, mas surgiram indícios de ter sido a compra efetuada por telefone a partir da Ásia. As especificações sobre a garrafa e seu conteúdo, 750 ml de um uísque de sessenta anos, se pode encontrar aqui.
A dose padrão muda conforme o lugar e quem a estabeleceu, não existe uma padronização universal. Considerando a dose como apenas 30 ml - a menor que encontrei - a preciosa garrafa teria capacidade de servir 25 doses valendo, cada uma, 44 520 dólares. Com o câmbio de ontem, isto equivale a 167 mil 470 reais. O valor aproximado de um carro de luxo por uma única dose de 30 ml (a xicrinha de café tem, em média, 60 ml). Impossível imaginar outra embriaguez mais dispendiosa. É provável se tratar mais de ostentação levada aos píncaros do esnobismo que do desejo de apreciar a bebida. O arrematador incónito saciou a ansiedade descrita por Galbraith e decorrente da contradição entre a vontade de ostentar e o medo das consequências de provocar a cobiça e o sentimento de menosprezo. No cinema, é célebre a cena de acender charutos com notas de dinheiro... |
Thu, 11 Oct 2018 11:24:06 -0300 Loucura! sem assinatura Sim, somos um bicho muito esquisito... Thu, 11 Oct 2018 11:27:16 -0300 Gostei! sem assinatura Que bom! |
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