Ah, que vontade de plagiar o Vaticano e seu papa ou cardeal que, há séculos, explicou que a maldade estaria nos olhos que contemplavam o teto da Capela Sistina e não na obra de Michelangelo. Só que, aqui, substituiria a maldade por amor. Antes de tornar as coisas claras, anoto outra evocação que me trouxe o e-mail de leitor(a) anônimo(a) da crônica de ontem. Certa vez, Fellini, como resposta à admiração de uma fã ou à pergunta de um repórter, disse: "... nem tanto, não sei fazer uma história de amor." Eis a mensagem: "Adoro suas crônicas de amor." Quedei-me mudo. Não faço crônicas de amor. Seria pretensão ilimitada! De amor, que sei eu, ainda que se tome a palavra na acepção mais corriqueira, esta palavra tão múltipla a que emprestam multidões de significados, categorias e explicações. Não, evito até falar de amor. Contei: em 696 crônicas, ao longo de 3194 dias, oito anos, e nove meses (completa amanhã) ela aparece 39 vezes. Por isto, a resposta a este(a) leitor(a) anônimo(a) de que o amor está nele(a), como teria assinalado o cardeal (que seja um cardeal, de vestes rubras como no funeral de João Paulo II) a quem apontou erotismo nas pinturas do gênio toscano, à época em que os portugueses se maravilhavam por aqui com uma e outra índia "e sua vergonha (que ela não tinha!) tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela", segundo Caminha. Amor, tomado como a relação de encantamento e a atração mútua de um homem e uma mulher, é tema para os grandes mestres. Sobre o Amar, verbo intransitivo, como definiu magistralmente em título Mário de Andrade, quanto a este Amor impessoal e absoluto, sem objeto, calo. Creio que nem tema seja. O amor de dois enamorados é o âmago da Vida. Nele já se manifesta a próxima geração. |
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