Outra madrugada de chuva intermitente. O beiral sem calha, quando a chuva para, goteja a realçar o tiquetaque de um reloginho barato, de camelô, com seu único tique por segundo. A chuva parou, mas o gotejar das copas de árvores sobre as folhas mais baixas mantém um tamborilar ininterrupto, mais grave, mais lento.
Na data de hoje, há 56 anos, o Sputnik, o primeiro satélite artificial, escapava da atração irresistível da imensa massa da Terra e se foi. Era a primeira vez que o Homem conseguia "jogar" algo para cima com uma aceleração de onze metros por segundo ao quadrado, ou mais, enquanto o planeta o puxava para si com a velha aceleração da gravidade, de dez metros por segundo ao quadrado.
Era o ano de 1957 e, na vernissage de minha adolescência, fui marcado fundo pelo frisson causado pelo feito da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS. Já contei aqui sobre o bip-bip emitido pelo nosso segundo satélite, o primeiro depois da Lua. Em apenas meio século, veio um enxame de satélites, de todos os tipos, de todos os tamanhos e até estações espaciais.
A ciência e a tecnologia evoluíram e evoluem de modo assustador, mas o ser humano aparenta continuar o mesmo, apegado a posses e sensações, cheio de avidez, ganancioso, egoísta. Um animal capaz de justificar a guerra. (A chuva aperta outra vez.)
Ao mesmo cérebro se deve a evolução da ciência, tornar palpável cada insight e, para citar Stanley Kubrick, depois de descobrir num osso uma arma, a torrente fluiu até, por exemplo, o dispositivo CCD (charge coupled device), minúsculo, atrás da objetiva do celular, à guisa de "filme" para fotografar ou filmar tudo, o tempo todo, por toda parte, bem como a infinidade de outras "maravilhas", a maioria fruto de cabeças desconhedidas, anônimas para a maioria de nós.
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4 de outubro de 2013 08:31
Amigo,
Entendo perfeitamente o seu sentimento quanto a nossa espécie. Mas tenho boas notícias. O que a ciência nos aponta claramente é para a diminuição da violência em escala global. Recomendo esse livro aí
Estou perto da metade, e fascinado pela quantidade de informação e pela capacidade de concatenação e associação de fatos e idéias pelo autor. Vale a pena mesmo.
Sua lembrança do Sputnik foi uma viagem a adolescência. O feito soviético influenciou muito os meu pendores pró-comunistas na época. Que idiota somos nessa idade... A merda é que até hoje os adolescentes nas escolas estão entregues a professores que fazem a apologia dessas idéias estapafúrdias e sem conexão com o que sabemos da nossa espécie. Um meme que se reproduz como um vírus de idiotia e desentendimento...Não vou amargar. Fico por aqui.
Grande abraço do amigo
Ebert
Ebert, grande Ebert!
Obrigado pela atenção. Precisaria mesmo ler este livro para deixar de achar que, em essência, continuamos como antes, inclusive quanto à violência. Acabou a escravidão, me diz um sobrinho. Sim, a do navio negreiro, mas continuam "escravos" muitos trabalhadores mundo afora, como os tristemente famosos "bolivianos" em confecções, para não falar da China e de muitas propriedades rurais Brasil adentro. Desde de que nasci não houve um só dia se gente guerreando em algum lugar! Mesmo hoje, os USA evitam mandar seus soldados, mas guerreiam e estimulam a guerra (quiçá para vender armas!) por meio de tecnologia ou da ONU...
Estou finalmente lendo um livro que ganhei de meu filho há alguns anos e me convenço, à medida que avanço, que os norte-americanos também são exímios "fazedores de livros", como de filmes. É também um lançamento da Companhia das Letras, muito bonito, com capa do Kiko Farkas, folhas azul forte quando fechadas etc. Ótima tradução, bem escrito por um JORNALISTA sobre... "Uma breve História de Quase Tudo", e não só o título é pretensioso. Ele fala de ciência o tempo todo, mas NÃO é um cientista e, diz muita coisa sem precisão... Discutiu a história das medições da distância Sol - Terra e conclui com um número com precisão de 1m! Ora, a cada dia essa distância muda, todos sabem e entre os solstícios, a diferença chega a cinco milhões de quilômetros... Mas vou ver se me aventuro com o senhor Steven Pinker.
Abraço, c.
04 de outubro de 2013 19:32
essa tbm foi de madrugada? essa chuvinha boa pra ficar na cama?
sem assinatura
Sim, mas fiquei escrevendo isto.
07 de outubro de 2013 21:34
... e a turminha do google diz que, muito em breve... vai bastar pensar o que deseja e a ordem será obedecida pelos sistemas ao redor... ou algo parecido...
admirável mundo novo?
sei não...
sem assinatura
Bem, um dia se riu da hipótese de colocar em órbita da Terra um satélite artificial...
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