Disse outrora uma feiticeira, vivida de muitas encarnações, ser toda mulher um pouco bruxa, um pouco fria e muito capaz de muito mentir. Eu, de mim, o creio e constato no conviver com as mulheres em geral e com aquela que habita cada homem - alma, anima, psiquê, sei lá o quê - em particular. Têm elas tal poder sobre os homens - sejam os mais brutos, baixos e ignorantes ou os mais nobres e sábios, os melhores entre nós - que se torna evidente o pacto de cada uma com algum deus ou satanás. Bruxas são e frias também. Não digo do corpo, é claro, pois ele apenas responde, como instrumento musical cuja melodia depende de dedos, lábios e língua. Do jeito hábil de soprar a embocadura ou beliscar a corda certa, certa hora em certo lugar. Falo da mente fria, adequada ao calcular. Não cálculos, por exemplo, da atração universal (embora elas possam atrair como Newton jamais calculou!) ou cálculos de geometrias e mistérios de certas áreas, relações de volumes ou áureos segmentos. Tampouco de toda relatividade dos cálculos onde massa, forma e corpos dependem de referências relativas ao tempo também. É o cálculo de cartas marcadas, coringas no jogo da vida ou cartas das geografias de meandros, atalhos, volteios - rendas de mil armadilhas da rota de cada um - que faz dessas bruxas tão doces, calculistas frias também. E nessas artes que praticam sem querer, por pura e simples intuição, agem tão à vontade com tudo fluindo tão natural, que penso se não é apenas a Vida não querendo deixar de ser. cenário natal deste velho texto O trecho do velho texto, de 1988, continua a me soar fluente e divertido. Disfarço-o de crônica, hoje, para atender, ainda que por gesto oblíquo, a manifestações de leitoras entusiasmadas com a assiduidade dos últimos dias. Peço aceitem o disfarce e me perdoe quem conhecia o velho intróito, cujo original sempre esteve neste sítio. |
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