A boneca de pano tinha cabelos ouriçados de lã grossa, cor-de-laranja. Por isto, chamava mais atenção entre tantas diferentes, que Circe fazia para vender. No sonho, a mesma Circe de quase quarenta anos atrás viera nos visitar com suas bonecas. Ao acordar, me lembrei: esquecera seu nome nas páginas da enfoco - Escola de Fotografia. Que se repare aqui. Encontrei Circe, há uns três anos, no lançamento de um livro que ilustrara. A mesma, por fora e por dentro, encantadora e irreverente. Não sei como foi parar na enfoco mas, lá, fez muito mais que posar nua e, fora da escola, suas peripécias, provocantes e criativas, também marcaram.
Uma vez, se entendeu com uma firma de outdoors e durante algumas semanas pintou, junto com um colega, o espaço de um desses grandes cartazes na rua da Consolação, perto do centro. Quem passava todo dia por ali podia vê-los, em duas escadas, bem como o surgimento da obra. Os jornais registraram o fato... De outra feita, propôs ao júri da Bienal de São Paulo uma obra que não foi aceita: dois negros musculosos a transportariam em uma grande bandeja, nua e em leilão. Perguntei-lhe o que faria se, aceita a 'obra', aparecesse um comprador. Ela, com a espontaneidade de sempre, não titubeou: eu iria com ele, ora! Assim a Circe, sempre em busca do maior desafio. Na enfoco, deu uma aula especial sobre seu trabalho como artista performática. Lá pelas tantas, descreveu uma situação em que fez um strip-tease e, enquanto falava, foi se despindo, numa sala onde os alunos sentavam-se num banco que corria as paredes - ela no centro. Todos já a tinham fotografado nua, no estúdio. Mas sua atitude ousada naquela aula constrangeu a maioria. O desnudar-se, peça por peça, ali, ao alcance do braço e na condição de professora, deixou muita gente sem graça. Pronto, fica o registro, mas tem muito mais... |
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