desenho de MIMA no fim cada mania acha seu louco

Crueldade

25/06/09

A leitora foi clara como sempre em sua carta: "que nojo, não vou ler!!! e que crueldade com as minhocas..." Referia-se, é óbvio, à crônica de ontem.

Quanto ao nojo, cada um sabe de si. Alguns assuntos à mesa são indigestos para uns e palatáveis para outros. Como com gosto e cor, aqui não cabe discussão.

Já, atribuir crueldade a crianças pequenas me soa quase como provocação. Cruel o menino, cruel a menina? Lamento as minhocas vítimas de macarronadas, mas duvido de qualquer maldade ali.

Desafia-me a idéia de crueldade infantil. Se acredito que criança é sempre espontânea, age com naturalidade, ela sempre agiria sem maldade, sem premeditação. Não haveria intenção de ser cruel ou de infligir dor ou sofrimento. Criança age quase como um cão ao matar um bicho que, embora torture, não sabe o que é torturar.

Vida e morte são naturais. Matar também o seria, pois é impossível a um animal continuar vivo sem matar. Tal condição primeiríssima explicaria o 'instinto' que leva uma criança a judiar de animais. Consciência ecológica não habita a mente humana no início da vida e, o 'politicamente correto', me parece, sempre, uma aberração.

desenho do autor

Ainda criança, catei muito bicho disponível para brincar ou investigar. Muitas vezes os submeti a barbaridades sem, no entanto, consciência de ser cruel. Não tinha más intenções. Moscas, caracóis, ratos, minhocas e outros bichos foram metidos em vidros, observados. Eventualmente, foram torturados, os ratos em particular, mas, ainda neste caso, não me parece que existisse maldade ou gozo com o sofrimento da vítima. Tampouco tinha a imprescindível empatia com ela...

Einstein recomenda não matar a "planta frágil da curiosidade científica", que precisa, ele acrescenta, "especialmente de liberdade". A criança, por si, age com a inocência de um cão.

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