Exposição oral
12/12/18
Minha tese, declarou sem que nada lhe perguntassem, é sobre a tendência irreversível de qualquer software, ou aplicativo, como agora preferem denominar, se tornar progressivamente pior a cada nova versão. Todos se entreolharam certos do desinteresse coletivo pelo assunto, tecnológico demais para compreensão dos convidados. Nada disseram e o intempestivo orador prosseguiu: admito, até, a possibilidade de pequenas melhorias, apenas nas primeiras correções - pois a sucessão de versões serve para corrigir supostas imperfeições encontradas na edição anterior. E aí reside o perigo: com o acúmulo de "melhorias" as coisas tendem a se complicar. Nada pode se aperfeiçoar eternamente e o afã de melhoramentos ofusca a visão geral original, distrai com a introdução de detalhes insignificantes, mesmo que sejam divertidos ou surpreendentes e o resultado final se complica e traz inevitáveis desvantagens colaterais a se acumular, sem que os inovadores as possam perceber. Durante o discurso um primeiro convidado saiu sorrateiramente, aliás, foi uma convidada a primeira a escapulir. Seu gesto logo encorajou duas outras pessoas, um casal e, depois deles, um após outro, todos saíram até que, por fim, o entusiasmado teorizador percebeu-se em um recinto quase vazio. Um último ouvinte permanecia em uma poltrona do fundo e, com os olhos semicerrados, era impossível, sem o risco de acordá-lo, saber se dormia ou seria todo ouvidos. O discursista calou, depois pigarreou e tossiu. Aí o derradeiro ouvinte abriu os olhos, levantou-se e falou: concordo com sua tese salvo por sua efemeridade intrínseca: no futuro os aplicativos serão projetados e produzidos por outros aplicativos, isentos da volúpia pelo divertimento, pela mirabolância e, consequentemente, incapazes de piorar as coisas com acontece agora. |
Wed, 12 Dec 2018 11:05:52 -0200 Aconteceu de verdade? Ou são suas teorias sobre aplicativos e ai ai ai? sem assinatura E o que acontece nos neurônios, aconteceu ou não? Thu, 13 Dec 2018 07:59:15 -0200 Oi, Clôde Oi, Ana. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|