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OPINIÃO
Quero logo o meu exemplar
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
"Aurélio" é um dos mais conhecidos exemplos de metonímia: o autor virou sinônimo da própria obra.
É claro que estou ansioso para ter um exemplar da nova edição. Quero ver o que foi feito com os termos do informatiquês e do economês. Quero ver as gírias, os neologismos, os estrangeirismos e o às vezes chato "politicamente correto".
Mas talvez minha primeira consulta se dê na letra "f". Quero ver se ainda está registrado o verbete "fôrma". Com toda a razão do mundo, Aurélio era contrário à eliminação do acento diferencial dessa e de outras palavras, imposta pela reforma de 1971. Sem nenhuma razão, o dicionarista resolveu registrar "fôrma" por conta própria. Essa palavra oficialmente não existe na língua portuguesa.
E é aí que mora o perigo. Imaginar que um dicionário -qualquer que seja- possa decifrar todos os mistérios da língua e dar o veredicto -às vezes autoritário- a respeito de tudo é um engano. Se o próprio dicionarista passa a acreditar nisso, o resultado pode ser uma obra carregada de idiossincrasias. "Fôrma" ilustra bem essa situação.
Mas, por favor, que ninguém pense que seja sempre um risco consultar o "Aurélio". Nem de longe. O dicionário é bom. Vai um pouco além disso: conjuga verbos, dá plurais, informa a origem das palavras, tenta mostrar o emprego do vocábulo nas várias regiões do país etc. Resolve 99% dos problemas básicos de quem o consulta.
Como tenho horror a qualquer ditadura, é claro que não me limito ao "Aurélio". Em casos mais complicados, consulto também o "Michaelis", o velho e bom "Aulete" e o que mais houver à mão. Confesso, porém, que, como tantos milhões de brasileiros, já incorporei metonimicamente o "Aurélio". Quase sempre, é o primeiro que consulto. É isso.
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