cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

Fim de um veranico

31/07/12

Hoje, no horário do sol nascer, uma bruma apagava tudo além de uns trezentos metros, calculei, restaurando as condições climáticas da época e lugar. O pequeno verão perdido no inverno acabara com o declinar o sol sobre o horizonte sem espalhafato, sem cores escandalosas, que pôs um ponto final no domingo estival perdido no inverno.

Então, ventou por toda a tarde, sopros vindos, quase sempre, de oeste e noroeste. A umidade relativa do ar esteve baixa, com o galinho de Lisboa, muito azul. Todavia, ainda que com pálidas tintas, o fecho de um dia é sempre solene, cheio de evocações e se impôs, ali, como silêncio, a desafiar a razão. A borda da bola incandescente tangenciou o recorte irregular de um horizonte sem mar e o apagar da tênue luz amarelada entristeceu a paisagem.

Mais tarde, a noite enluarada, de lua quase cheia, se apagou aos poucos, reduzindo o firmamento às estrelas mais brilhantes e, a seguir, nuvens espessas toldaram completamente a abóboda apagando o luar em prenúncio das mudanças por vir.

O penúltimo dia de julho assinalava assim, o fim de um delicioso veranico e os 45 anos de um nascimento e metade deste tempo de uma morte.

Hoje, terça-feira, um grasnar poderoso encheu a paisagem esbatida pela bruma. A voz forte de um jacu solitário calava a disputa habitual dos bem-te-vis. Depois, a ave grande e negra voou, com o rabo espalmado para um pé de chico-magro desfolhado pela estação. A família de jacus com seu filhote parecia reduzida a um único indivíduo.

Quão frágil a vida! Nas tábuas de Moisés matar era intransitivo? Perco-me nesse último dia de julho, feio, úmido e tão diferente daquele domingo quente, seco e azul. No entanto, são tempos de inverno, de dias frios e, aqui, herdamos esta condição tropical, úmido demais, tão propícia ao vicejar. Aos poucos, a bruma se dissipa...

Tue, Aug 07, 2012 7:29 pm

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