"Pode-se supor que um espírito, em que o tipo 'espírito livre' deva tornar-se alguma vez maduro e doce até à perfeição, teve seu acontecimento decisivo em um grande livramento e, por isso mesmo, que era antes um espírito ainda mais prisioneiro e parecia acorrentado para sempre a seu canto e pilar. (...) O grande livramento, para os que estão presos a tal ponto, vem subitamente, como um tremor de terra: a alma jovem é abalada de uma vez, arrancada, arrebatada - ela mesma não entende o que se passa. (...) 'Antes morrer do que viver aqui' - assim soa a voz imperiosa e a sedução: e este 'aqui' esse 'em casa', é tudo que ela havia amado até então."
Friedrich Nietzche, Obras Incompletas, Humano, Demasiado Humano, Prefácio, § 3, Abril, 1983
"Depois de uma resposta tão maneirosa, aconselha-me minha filosofia a calar e não perguntar mais nada; tanto mais que em certos casos, como sugere o provérbio, só se permanece filósofo - calando-se."
Friedrich Nietzche, Obras Incompletas, Humano, Demasiado Humano, final do prefácio, § 8, (datado: Nice, primavera de 1886) Abril, 1983
O feminismo contemporâneo isolou-se da história e decretou sua própria falência ao tecer sua fantasia, pueril e paranóica, de homens opressores e mulheres vítimas, objetos sexuais. A mulher é o sexo dominante. O glamour sexual da mulher vem enfeitiçando e destruindo homens desde Dalila e Helena de Tróia. Madona, modelo para milhões de garotas pelo mundo afora, curou os males do feminismo ao reafirmar o comando da mulher sobre o reino da sexualidade.
Camile Paglia, "The Independent", reproduzido FSP, 20/9/92, pag. 6-5.
"(Come chocolates, pequena;
come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo
senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que
a confeitaria
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha
de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)"
Tabacaria - Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, 1928
Aborreço-me da possibilidade
De vida eterna; o tédio
De viver sempre deve ser imenso.
Talvez o infinito seja isso...
Já o tédio de o pensar é horroroso.
Fernando Pessoa, Primeiro Fausto, XXXVI
Loucos são os heróis, loucos os santos, loucos os gênios, sem os quais a humanidade é uma mera espécie animal, cadáveres adiados que procriam.
(F. P., "Sobre um Manifesto de Estudantes, Lx Tip. An. Comercial, s/d - rep. Intrd. Geral/Encontro de Poesia, p. XXVII - Aguilar, 1960)
"Mas, por outro lado, também queria ter um homem me exigindo, me seguindo com um olho cobiçoso, com ciúme de mim, como se eu fosse coisa dele."
Raquel, na voz de Maria Moura, em seu Memorial. Sciciliano, 1992, p. 202.
"O trabalho humano. Eis a explosão que de quando em quando aclara o meu abismo.
'Nada é vaidade; rumo à Ciência e avante!' Proclama o Eclesiaste moderno, ou seja Todo o mundo. E ainda assim os cadáveres dos maus e dos marginais caem sobre os corações do outros... Ah! rápido, mais rápido; ao longe, para lá da noite, as recompensas futuras, eternas... Nós escaparemos delas?"
Artur Rimbaud - Une Saison en Enfer - 1873,
"De sorte que carece de se escolher: ou a gente se tece de viver no safado comum, ou cuida só de religião só. Eu podia ser: padre sacerdote, se não chefe de jagunços; para outras coisas não fui parido."
Grande Sertão: veredas, Guimarães Rosa, Nova Fronteira, 29 ed., pag. 8, 1986.
Eh, bom meu pasto... mocidade. Mas mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir."
idem, pag. 15
"Ah, tem uma repetição que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada.
idem, pag. 26
'Você sabe que eu já nasci com cadeado na boca, e que voluntariamente não me exponho, a não ser por deliberado projeto"
Guimarães Rosa, em carta a Álvaro Lins, de 19-2-50
"O ruim proclama de si; nem carece explicação."
"Em verdade, em verdade vos digo que muitas coisas neste mundo poderiam saber-se antes de acontecerem outras que delas são fruto, se, um com o outro, fosse costume falarem marido e mulher como marido e mulher."
José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" pag. 71
"Aqui estou, fingirei amanhã assombro perante o regresso do filho pródigo, que não é por serem breves as ausências que a alegria será menor, afinal a ausência é também uma morte, a única e importante diferença é a esperança."
José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" pag. 195. (colhida pelo Vi)
"Sou como a tua boca e os teus ouvidos, respondeu Maria de Magdala, o que disseres estarás a dizê-lo a ti mesmo, eu apenas sou a que está em ti."
José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" pag. 308
"Maria de Magdala foi atrás dele, passou ao lado de Maria de Nazaré, e as duas mulheres, a honesta e a impura, num relance, olharam-se sem hostilidade nem desprezo, antes com uma expressão de mútuo e cúmplice reconhecimento que só aos entendidos nos labirínticos meandros do coração feminino é dado compreender."
José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus
Cristo" pag. 344