SCHOPENHAUER

1.

O bem, a felicidade, a satisfação, são negativos, porque não fazem senão suprimir um desejo e terminar um desgosto.

Acrescente-se a isto que em geral achamos as alegrias abaixo de nossa expectativa, ao passo que as dores a excedem grandemente.

Se quereis num momento esclarecer-vos a este respeito, e saber se o prazer é superior ao desgosto, ou se apenas se compensam, comparai a impressão do animal que devora outro com a impressão do que é devorado.

Artur Schopenhauer, "Dores do Mundo". 4¦ ed da Edições e Publicações Brasil S. A., 1960 (pag. 6)

2.

"A dissimulação é inata na mulher, tanto na mais esperta como na mais tola. É-lhe tão natural usá-la em todas as ocasiões como a um animal atacado defender-se com as suas armas naturais; e procedendo deste modo, têm até certo ponto consciência de seus direitos; o que torna quase impossível encontrar uma mulher absolutamente verdadeira e sincera. É justamente por esse motivo que ela compreende tão facilmente a dissimulação nos outros e que não é prudente usá-la com ela. - Desse defeito fundamental e das suas consequências nascem a falsidade, a infidelidade, a traição, a ingratidão, etc."

Artur Schopenhauer, "Dores do Mundo". Ed. e Publ. Brasil S. A., 1960 (pag. 82)

3.

"Se se concedesse ao homem uma vida eterna, a rígida mutabilidade de seu caráter e os acanhados limites da sua inteligência parecer-lhe-iam com o tempo tão monótonos e inspirar-lhe-iam um tão grande aborrecimento que, para se livrar deles, acabaria por preferir o nada."

Artur Schopenhauer, "Dores do Mundo". Ed. e Publ. Brasil S. A., 1960 (pag. 98)

4.

"Em circunstâncias difíceis é preciso não desdenhar recorrer, como outrora os germanos, aos conselhos das mulheres; porque elas têm uma maneira de conceber as coisas totalmente diferente da nossa. Vão ao fim pelo caminho mais curto, porque fixam geralmente os olhares, no que têm mais próximo. Nós, pelo contrário, não vemos o que nos salta aos olhos, e vamos procurar muito mais longe; precisamos que nos levem a uma maneira de ver mais simples e rápida. Acrescente-se, ainda, que as mulheres têm decididamente um espírito mais ponderado, e não vêem as coisas senão tal qual elas são; ao passo que nós, impelidos pelas paixões excitadas, aumentamos os objetos, e aperfeiçoamos quimeras."

Artur Schopenhauer, "Dores do Mundo". Ed. e Publ. Brasil S. A., 1960 (pag. 81)

5

Entre os povos polígamos, cada mulher encontra quem se encarregue dela, entre nós pelo contrário o número de mulheres casadas é bem restrito e há um número infinito de mulheres destituídas de proteção, solteironas vegetando tristemente nas classes elevadas da sociedade, pobres criaturas destinadas a trabalhos rudes e difíceis nas classes inferiores. Ou senão tornam-se miseráveis prostitutas, arrastando uma existência vergonhosa e impelidas pelas forças das circunstâncias a formar uma espécie de classe pública e reconhecida, cujo fim especial é preservar dos perigos da sedução as mulheres felizes que encontram marido ou que ainda esperam encontrá-lo.

Artur Schopenhauer, "Dores do Mundo". Ed. e Publ. Brasil S. A., 1960 (pag. 89)

SUASSUNA

1.

"E de repente, para ele, foi como se o Sol sertanejo tivesse caído no meio da rua. A janelas centelhavam, as casas pareciam dançar na luz, fulgiam estrelas estranhas, um arco de bronze de raios e coriscos começou a desferir nas cordas de ouro e de cobre do Sol uma estranha música sagrada. Vilas pegavam fogo, todo o Sertão estava incendiado. Mas, no braseiro formado pelo incêndio, algum arcanjo demente devia ter lançado punhados de jasmins, porque, de repente, foi um cheiro de jasmins que começou a impregnar tudo. Ele, fulminado, não sabia o que dizer ou fazer. Sentia, com o sangue, que fora profundamente ferido, e para sempre, muito mais do que se a faca de Joaquim Imaginário tivesse se cravado em seu peito. Lembrava-se, vagamente, estranhamente, de que, num certo momento, há pouco, há séculos, tivera aquela moça nos braços, e fora então que aquele cheiro de jasmins começara a impregnar o Sertão..."

Ariano Suassuna, História do Rei Degolado nas Caatingas do Sertão, romance armorial e novela romançal brasileira, Livraria José Olímpio Editora, Rio, 1977, pag 25

2.

Como Divindade tapuia-sertaneja Caetana era bela, imortal e eternamente jovem, dotada daquela beleza ao mesmo tempo cruel, terrificante e fascinadora que é própria de sua hierarquia divina. Já fulminara muita gente com o toque de sua mão e com seu mortal abraço. Já farejara e bebera muito sangue entre aquelas pedras selvagens do Reino do Sertão.

No começo imemorial dos tempos, vira as plantas e os animais sertanejos surgirem, pela primeira vez no mundo deserto, do barro úmido, quando as Divindades cariris se ajuntavam carnalmente entre si e pingos de sangue dos deuses-machos e das fêmeas caíam do céu e do Sol no chão, e geravam, assim, da terra, os rebanhos de todos os bichos que ainda existem.

Ariano Suassuna, História do Rei Degolado nas Caatingas do Sertão, romance armorial e novela romançal brasileira, Livraria José Olímpio Editora, Rio, 1977, pag 11.

STANISLAW PONTE PRETA

"... um cara meio trapalhão, desses que cruzam cabra com periscópio pra ver se arrumam um bode expiatório."(80)

"... desde o tempo em que Papai Noel tinha barba preta." (81)

"... era mais monótono que itinerário de elevador." (86)

Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) FEBEAPÁ 1 - Civilização Brasileira, 1980 9a. ed.
(Os números entre parênteses indicam a página.)

TANNAHILL

O amor pertencia à mente, o sexo ao corpo, de maneira que os árabes não viam motivo para confundir os dois. O que a escola do "amor puro" fez, foi tirar proveito da segregação das mulheres, de modo que ao invés de negar amor, ela o fornecia. A castidade, primeira regra do jogo, se tornou tão importante, que para o amante seria ......... saciar sua paixão, mesmo havendo possibilidade. Fidelidade, a segunda regra, segundo se esperava, devia ser observada a vida inteira. A terceira regra requeria sujeição absoluta do amante à bem-amada, mesmo que isso o fizesse morrer pouco a pouco, uma vítima "chorando por amor a sua assassina", como colocou o poeta Djamil.

O Sexo na História, Sex in History, Reay Tannahill, Francisco Alves, 1983.

TRUFFAUT

"No filme, todavia, o centro de interesse desloca-se em favor da heroína, e a razão é simples: quando ela está na tela, não se pode olhar para outra coisa além de seu corpo, dos pés a cabeça, com mil etapas intermediárias".

François Truffaut, em crítica ao filme de Billy Wilder, "O Pecado mora ao lado", com Marylin Monroe, para o Cahiers du Cinéma (1956).

"Não há mais razão para reflexões inteligentes: quadris, nuca, joelhos, cotovelos, lábios, palmas das mãos e perfis sobrepujam travellings, panoorâmicas, fusões e planos fixos."

Idem.

VON FRANZ

"Na mitologia da lua, a lua é perversa, pois inconstante, não sendo merecedora de confiança. (....) Assim, a lua tem todo o veneno maligno e toda inconfiabilidade típicos da anima em sua condição original, e também dos seres femininos em geral, não só do feminino no homem, pois no feminino existe aquela ética felina, veladamente maldosa, a que poderíamos chamar de ambigüidade da natureza."

Marie-Louise Von Franz, Alquimia (1980), trad. Álvaro Cabral, Cultrix, 87, pag. 130

WOLFE

"....Haverá grandes letreiros nas paredes, de 2,40m x 3,30m cada um, apresentando as passagens protéicas do período... um pouquinho de 'superfície plana e fuliginosa' aqui... um pouquinho de 'arte de ação' ali... e um bocadinho daquela 'toda arte versa sobre arte' mais adiante. Ao lado haverá pequenas reproduções da obra dos principais ilustradores da Palavra daquele período, tais como ....

....Todo estudante de arte se assombrará ao saber que uma geração inteira de artistas devotou a carreira a buscar a Palavra (e a internalizá-la) e à tarefa extraordinária de se despojar do que porventura possuíssem de imaginação e técnica que não fosse coerente com a palavra. Ouvirá os historiadores de arte dizer, com aquele sorriso que hoje se reserva ao estudo da astrologia frígia: 'Era assim naquele tempo!' - ao descreverem como os cientistas de meados do século XX, baseando-se nas descobertas de seus predecessores, conseguiram iluminar os céus... enquanto os artistas, desviando os olhos de tudo que seus predecessores, a partir de Da Vinci, realizaram, se esquivaram aterrorizados ou desintegraram tudo com o solvente universal da Palavra."

Tom Wolfe, A Palavra Pintada, L&PM Editores, trad. Lia Alvarenga - Wyler, 1987. pag. 118

 

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