Foi-se agosto em dias de sol e calor, excelente imitação de verão no final de um inverno mais chuvoso que frio. Vão-se doze anos da morte da última princesa. Um mundo se confunde entre tantos outros, virtuais. Um Brasil emerge estado sindical. O futebol se faz nebuloso mercado de gente e nas passarelas escorrem corpos sob panos sutis, tênues panos a revelar o que simulam esconder. Exalta-se desde já o carnaval vindouro, como já se preparam os ribombares do réveillon. Cabem ainda 21 dias no inverno do sul, o mesmo tanto para que se finde o verão, ao norte.O sol mais alto e com reverberações agudas põe cabeças a fervilhar e ecoa o ronco esquisito da cuíca a conclamar ferveres de outras estações... Os bichos sentem mais forte o impulso de reproduzir-se na estação das flores - órgãos sexuais das plantas superiores - belos e perfumados órgãos sexuais, que colhemos e pomos em vasos nas salas de visitas. Primavera é tempo de procriação! Cumpre providenciar seres para um futuro. A meta de sete bilhões logo se atingirá. Rugem motores nas ruas, rugem e ofegam e dão também seus puns. Zumbe um helicóptero qual inseto lúgubre e o tempo escoa como areia fina apesar dos relógios digitais. "Nunca se falou tanto em comunicação e, todavia, nunca foi tão difícil se comunicar", a frase que, apesar das aspas, se registra apenas na memória de um velho, ouvi de Maureen Bisilliat, na enfoco - Escola de Fotografia, no início dos anos setenta. Hoje, ela me volta, volta e meia, diante da febre de comunidades e redes sociais. A comunicação instantânea, a infinidade de conexões possíveis, a amizade de computador - tudo traz de volta a voz de Nelson Rodrigues: "o amigo é o grande acontecimento, e repito: só o amigo existe e o resto é paisagem." Aqui, a paisagem se verga sob uma poluição sufucante. |
|| |home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|