Kikas22/02/00 |
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A fonte da eterna juventude... do verão eterno, do prazer que nunca termina, da felicidade definitiva e última, do pôr-do-sol que jamais acontecerá, perpetuado como pintura, fotografia, granito em gesto imóvel e mudo, por mais que se vibre a marreta contra todos os joelhos, como os médicos outrora e se clame por qualquer sopro de vida! O barro volta ao pó que sempre foi... Eterna juventude! Não acaba a juventude nos museus de horror e cera, que devem estar em Londres, como o Drácula e toda fantasia do fundo lodoso do poço e do lago. A gota de chuva surpreendida em plena queda, congelada num candid shot - expressão ainda sem equivalente na língua de Rodrigues, Assis e Sir Ney, que se diz de Camões mas, a dele, era outra: experimente e verá -, a gota declara a inutilidade de sua existência, diante da boca escancarada do oceano. Questiona o significado último do ser - de ser gota. Pobre gota vaidosa... As Kikas quicam por toda parte e logradouro que, agora, fazem jus ao nome nas três acepções: pois fruídos, logram, ao impedir a livre circulação como impedem, ao gado, de pastar em público. Kikas que quicam e enchem rádios sem locutores de cacarejares e cocoricares em tempos de neuras eletrônicas através de ondas hertzianas. De quando em vez, é voz de gralha no ar. Cada qual tateia a escuridão e busca a semente de luz. O sonho da fonte da juventude ofende a beleza da velhice? A gota que cai não é desde sempre oceano? Gota que se desfaz em vapores em outros mares de nuvens? O fim não marca outro início? Silêncio! Silêncio, cabeça loquaz! Como a pomba arrulhas sem que nem porquê. Ah, língua! Nunca saberei se a ante-penúltima palavra é um que ou um quê... |
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