As últimas flores já vão longe, as duas ou três derradeiras nas pontas de negros galhos crispados. Amarelas, sim, tentativa desesperada do esplendor de outrora. Amarelas, mas miúdas e sem a exuberância e opulência das velhas floradas exibicionistas do ipê-amarelo. Idas as flores, ainda ficaram umas poucas folhas, velhas, coriáceas, a espera do próximo outono para se juntarem à multidão de folhas mortas... - que se recolhem com a pá, tu vês, eu não me esqueci... - não!, não a estes versos estrangeiros, de outra língua!... Incapaz de tecer uma simples crônica o cronistaprendiz espreita o vento. Um o desprenderá do ramo fino para, como toda vida, ir adubar novas vidas, transmudado em terra ou no que for, a seguir o curso do rio ou, para que o rio siga seu curso... Dias esplendidos! Cedo o sol define o azul ao amarelar troncos, folhas, casas e cada ser com o beijo de sua luz. Todas as nuvens estão de férias. Aqui, calor - céu azul e sol beleza - velocidade igual à sensibilidade do filme, diafragma dezesseis - ecoa ontem a turvar o dia impecável! Quis uma crônica para assinalar uma efeméride boba e um arredondamento provocado. A nongentésima nesta série que começou em outro 18 de agosto, o de 1997, segunda-feira como hoje, (não confundir nongentésima crônica com uma crônica 'nojentésima'!) Novecentas em 4018 dias: uma a cada 4.46444444 dias. Não deu. Eis-me de mãos abanando depois de um sábado e de um domingo cheios de luz e lua cheia. Não soube tecer umas poucas linhas para assinalar a centena cheia que numera esta crônica e o décimo primeiro aniversário do início da publicação. Quem sabe o tronco a se desmanchar mansamente, galho a galho, talvez também queira novas floradas? Como ele, quis. Não fui capaz. Ao longe, outro eco zomba: "Quer? - Vais ficar querendo. Pega o pé e vai roendo." |
|| |home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|