no Shopping da Granja

O coelho

28/03/16

Não lembro quando nem como descobri serem meus pais, tanto quanto papai Noel, o verdadeiro coelho dos ovos de chocolate. Ignoro também como, com tanta preocupação com correção - pelo menos parece, o politicamente, o eticamente, o moralmente etc. corretos -, se encara o fato de mentirmos descaradamente às crianças sobre existência do inexistente. Tais inverdades não me incomodam.

Parece ser essencial ao ser humano certa capacidade de fantasiar mundos e personagens de "realidades" existentes apenas na imaginação. Nossa sociedade se teceu também da criatividade das fábulas e ficções de nossos antepassados e todo cérebro abriga em seu âmago a raposa e as uvas e a vassoura voadora e mil outros devaneios de quem nos antecedeu. Para mim, tais mentiras são apenas estimulo e exercício para a imaginação. Ensinam as crianças como lidar com a fantasia e, consequentemente, as preparam para a literatura, o cinema, o teatro, para nossa Cultura, enfim.

Somos capazes de engendrar heróis e vilões, imaginar dragões, unicórnios, centauros e sereias desde o tempo em que papai Noel tinha barba preta. Lendas e fabulações criam um universo paralelo, uma espécie de parque de diversões da perspicácia humana.

Aqui, temos o costume importar heróis, desde os "mocinhos" dos anos cinquenta aos detentores de mirabolantes "superpoderes", hoje a serviço da esperta indústria de Hollywood, em brigas cada vez mais absurdas, todavia bem assimiladas pelo intelecto mediano.

Assim como o célebre fantasma do pai de Hamlet, o coelho da Páscoa paira sobre nossas cabeças com a extravagante habilidade de, sendo mamífero, pôr ovos e, pior, ovos de chocolate. Sem dúvida uma tremenda barafunda biológica, mas inócua a um desenvolvimento sadio dos pequenos.

Mentiras como esta alimentam nossa capacidade de ver a ficção como tal.

Mon, 28 Mar 2016 10:36:36 -0300

Sempre que penso no coelho da páscoa me lembro dessa imagem... Abçs. Ebert

São lendas criadas há séculos, com beneplácito da igreja católica, e o milagre pode tudo justificar...


Mon, 28 Mar 2016 10:51:35 -0300

e, dizem psicos, fantasias ajudam a lidar com os próprios medos, terrores, complexos e tal. Jung era doido por uma carochinha, né?

Sim, e sempre me impressionou nele a coisa de brincar com pedras, lembra?
Não tinha ouvido da ajuda quanto aos medos.


Mon, 28 Mar 2016 12:27:35 -0300

De acordo!
Mas me lembro de ter ficado muito chateada quando, aos oito ou nove anos, uma colega me gozou porque achou que eu acreditava em Papai Noel (vai que ainda acreditava mesmo....)... A revelação ocorreu quando, em certa véspera de Natal, espiei pela escada e vi meus pais arrumando os presentes junto da lareira...
Bjs
Ana

São histórias parecidas. Contei em outra crônica como foi comigo.


Wed, 30 Mar 2016 17:14:24 -0300

Mas... cá entre nosostros...

Fazemos muito mal às crianças inventando várias maneiras de ganhar dinheiro, principalmente envolvendo os pequenos... E os miúdos acabam acreditando... que tristeza.
Os pequenos das ruas dos lugares mais simples são bem mais atraentes... (por acaso, ainda ontem brinquei com o universo das crianças... e isso vale, quase sempre... e se aprende...

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Sim, sob todos os aspectos a ganância é perniciosa.
Não conheço essas diferenças, mas acredito.
Apenas tomei a páscoa como pretexto para falar de um ponto de vista meu que mudou: antes, achava absurdo mentir com papai Noel, coelho etc. Não acho mais.

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