Outro noturno

04/02/15

De ontem para hoje se deu a oposição do sol com a lua, ou seja, foi noite de lua cheia. De início parecia não ser, também, uma noite enluarada, pois no entardecer uma densa camada de nuvens encobriu todo o azul e, mais tarde, trovoadas e relâmpagos antecederam a pancada de chuva forte, numa enxaguada rápida da atmosfera, coisa local, é óbvio.

Ao abrir as janelas, fechadas por causa da chuvarada, se descortinava um céu estrelado e enluarado tendo, de quebra, Júpiter ao lado do satélite natural, ou seja, numa conjunção muito favorável para astrólogos. O excelente software gratuito Stellarium, indicou se dar a tal conjunção na constelação de Câncer, mas as luzes da cidade e o luar apagam quase todas as estrelas. Para os astrólogos, seria outra a constelação de fundo, pois consideram um céu de mais de dois mil anos, quando nosso eixo de rotação apontava em outra direção, não para a estrela Polar como hoje.

Enquanto traçava estes dois parágrafos, chegaram pequenas nuvens a se intrometer na paisagem da oposição e conjunção dos três astros maiores - o sol, é claro, presente apenas por seu brilho na face da lua. A cidade é clara demais para se notar ser noite de lua cheia. Seria preciso se afastar mar a dentro, e muito, para recobrar o espetáculo extasiante de uma noite estrelada longe de qualquer outra luz.

Há muito tempo, cansado de dirigir por uma estradinha perdida longe de tudo, parei e saí do automóvel para esticar as pernas e, ao erguer os olhos, perplexo, vi mais estrelas que todas as outras, repetidas e somadas, já vistas até então. Desde então devaneio às vezes como deve ser contemplar o espaço nas noites límpidas da cordilheira do Andes... Com essa lembrança voltei à janela e um véu de umidade apagava quase todas as estrelas, salvo as de primeiríssima grandeza...

A conjunção se deu às 23h10 GMT.

Wed, 4 Feb 2015 10:11:07 -0200

Clode,

Você falando de estrelas me lembra meu avô, na Petrópolis da minha infância, que apagava as luzes da casa, deitava no jardim os netos e com sua bengala nos mostrava as constelações e as estrelas visíveis. Cenas inesquecíveis da infância.

Obrigada pela lembrança,

beijo

Mané

Mané,

Eram outro tempos, esbanjava-se menos eletricidade, o céu tinha mais estrelas.
Meu pai, mais de uma vez, foi com os dois filhos ao Arpoador para, deitados nas pedras, termos uma aula dessas do seu avô e viajar na imaginação...

O céu noturno é fascinante, mas nossa iluminação o apaga.


Wed, 04 Feb 2015 14:34:02 -0200

Oi,Clode
Gostei muito da cena do ceu estrelado ,na cordilheira dos Andes.Doce visao.
Saudades
Cecilia

Cecilia,

Desde das primeiras fotos de satélite da América do Sul, para previsão do tempo, noto a ausência quase constante de nuvens sobre a cordilheira e, nas épocas de muita chuva 'invejava' a secura andina. Não é por acaso a localização ali (no Chile) do mais moderno observatório na terra, em um trabalho em equipe de várias nações: http://en.wikipedia.org/wiki/European_Southern_Observatory.
Saudade também.


Wed, 4 Feb 2015 14:56:45 -0200

Linda crônica, Clode!

Ontem no CETRANS fizemos uma meditação da Lua Cheia (envio no anexo os textos para se quiser ler) e, ao sair de lá eu e minha amiga visualizamos uma Lua maravilhosa.

Compartilhei em meu Facebook sua crônica, pois quero que mais pessoas usufruam dessa leitura!

Obrigada...

Beijos da Vera

Oi, Vera,

É mesmo emocionante a visão da lua enorme a clarear mesmo onde há luz elétrica. Obrigado. Vou ler os textos e depois conto (ou não, ainda não vi!)


Wed, 4 Feb 2015 18:23:50 -0200

Você é um poeta das estrelas e suas vizinhas...

Que lindeza...

Essas cidades atoladas em poeira não merecem olhar pro seu céu...

      sem assinatura

Somos menos que um grão de poeira no que a poeira e a luz tentam esconder...

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