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Pássaros15/07/02Domingo, dia nacional francês, do lado de cá do fim do mundo, a manhã começou fria e gloriosa outra vez. Desde a primeira luz, chegam sabiás em busca de abacates. De repente, todos abandonam as frutas e se abrigam no meio da folhagem. Ficam quietos. Logo, se ouvem gritos estridentes e dois gaviões passam em vôo rasante. Parece uma perseguição, talvez um rito de acasalamento. Voam para o norte. Como estão baixos, logo somem de vista. A cena impressiona. Pouco tempo depois tudo se repete, agora de norte para sul e num vôo mais baixo, onde o som das asas se mistura aos gritos: flop, flop, flop. Nos pareceram enormes. São raros os dias cristalinos, assinala a amiga. Sim, raríssimos e o esplendor daquele céu logo desvenda uma maritaca solitária em um galho quase nu da paineira. Ia e vinha, próximo a uma grande baga, que se abriria em flocos de paina. Só algum tempo depois notei outra maritaca, pendurada de cabeça para baixo, a comer algo - provavelmente sementes - através de um furo no fruto da paineira. A cada suposta semente que pegava, algo claro caía, por certo um floco de paina. Quando se fartou, ou cansou da posição, subiu pelo galho e imediatamente a outra tomou conta do furo. Nem é preciso dizer que, diante disso, a primeira comensal voltou e começou a agredir a concorrente. As duas se estranharam durante algum tempo, cada uma a desferir bicadas no bico da outra, sem muita violência, até que a primeira desistiu da implicância e se foi galho acima. A segunda pode comer em paz. Agora, sem os gaviões, sabiás, dois pica-paus e vários pássaros cujos nomes ignoro disputavam os abacates, que caem da árvore muito alta e que, quando não racham, quase sempre os pássaros encontram antes que os possa ver. Todos nós também temos nossas disputas mas, no fim das contas, todos comemos. |
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