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Pretexto27/10/01Anuncia-se uma fabulosa encomenda de armas de guerra. É uma quantidade de dinheiro que as populações de muitos países jamais possuíram, em tempo algum. Dinheiro destinado à destruição. Armas que serão destruídas pelo uso e que destruirão centenas, milhares de pessoas. Comemora-se com entusiasmo a grande encomenda. Jornalistas, economistas e toda sorte de comentarista sublinha os aspectos positivos do feito: mais emprego, mais dinheiro na economia etc. Homens habitualmente sisudos explodem como macacas de auditório em aplausos frenéticos com a decisão anunciada. Gritinhos e risos histéricos, abraços, quase beijam. A tevê mostra poderosos sapateando pelos 200 bilhões de dólares, que o governo daquele país transferirá do povo aos fabricantes de armas. A nação parece feliz e diz que haverá progresso e enriquecimento. Há trinta anos, quando eu mencionava o absurdo da existência de exércitos e da fabricação de armas, via que me tratavam com a condescendência destinada aos incapacitados. Somos nós, cada um de nós, em nossa vidinha burguesa - se ainda vale o adjetivo - em nossa vida de casa para o trabalho e de lá para casa, vida doméstica, de alegrias e misérias, sempre atrás de entretenimento, diversão, vida que empurramos mal e mal até a morte, somos nós, cada um de nós, que faz a guerra. Parece mais cômodo pensar que são eles. Imaginar que os poderosos tomam as decisões, que nada podemos fazer, que interesses financeiros, compromissos eleitorais, barganhas e todo tipo de corrupção movimentam o tráfico de armas e a guerra, já que um depende da outra e vice-versa. Todavia, nos apavora a idéia de não ter polícia, exército e toda a estrutura de guerra. Não temos coragem de parar de imediato a fabricação de armas. Não nos ocupamos de fazer uma sociedade diferente dessa, sem base no lucro, na ganância, na exploração do homem... |
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