Seguíamos a pé pela alameda, era hora de almoço e saíramos do trabalho cada um com um propósito: um precisava passar no banco, outro buscava uma refeição, outra ia apenas pela companhia e eventual conversa, que poderia, ou não, acontecer. Íamos sem falas dignas de assinalar quando, na esquina de uma transversal, literalmente esbarramos nela, que subia, também a pé, aquela rua. Com sincero o espanto, saudamos o encontro inesperado e ela sorriu. Perdeu-se o que se disse ali, mas nossas reações devem ter traduzido aos outros o imperativo de privacidade a nós imposto por velhas histórias. Despedimo-nos e eles seguiram alameda afora enquanto deixávamos aflorarem lembranças e emergirem emoções. Por um momento, pareceu constelarem-se todas as possibilidades, mais de dois anos depois de um desenlace costumeiro nas separações dos encontros fulgurantes consumidos na própria paixão. Ela tinha os cabelos avermelhados, algo inimaginável para mim, mas apesar do novo aspecto, parecíamos dispostos a adiar todo afazer para explorar a possibilidade de novo, latente naquele encontro armado pelo acaso. Nos olhamos com com a surpresa e o prazer de confrontar o que é com corroídas lembranças. Tateando, tentávamos conversar. O desequilíbrio emocional me tornou ridículo e, para completar a catástrofe, estava duro, sem um centavo - eu era aquele que precisava passar no banco e tampouco tinha talão de cheque, cartão ou qualquer substituto monetário. Olhei com volúpia o bar acolhedor, com mesas espalhadas pela calçada mas, diante do bolso vazio, calei o convite óbvio. Ela queria comprar flores. Entramos, entre falas e comoções, na florista vizinha ao bar. Ao sair, fomos cada um para um lado, cada um com seu rumo. Voltaram-me os versos da canção famosa: urgia ao mar apagar na areia nossos passos separados... |
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