A jovem riu muito diante da insistência da mãe em desligar, primeiro, a conexão com a internet e, só depois, desligar o computador. Carregamos o passado e ele nos impede de chegar novos ao novo e reedita o velhíssimo slogan "são os tempos que pasmam os indivíduos" repetido em cada edição da "Ciência Popular", pretexto para publicar, na capa, alguma foto de moça provocante em poses ou atitudes ainda mais evocativas. Passado o momento de risos e regras para se desligar um computador, lembrei-me de também ficar incomodado quando desligo a máquina sem antes interromper a conexão. Coisa dos mais velhos, talvez. Talvez fruto de vivências que não soubemos sacudir dos ombros. O lembrar dos tempos capazes de pasmar pessoas, trouxe outra memória, velhíssima também e que, se hoje provoca, no máximo, um sorriso, à época causou constrangimento geral e uma infinidade de insinuações nada explícitas em olhares e gestos. Eis a banalidade capaz de tumultuar o aniversário de minha avó: Meu tio, filho dela, esperou o momento de convergência das atenções para dar a mãe uma grande caixa que lhe trouxera de presente. Se não me engano, ainda a incentivou para que abrisse logo o embrulho. Minha avó, viúva há muitíssimos anos, atendeu ao filho com sua bondade característica e... quase desmaiou quando viu o que ganhara: meia-dúzia de calçolas - pois seria impróprio chamar àquelas enormidades de calcinhas - de cores diferentes. Meu tio se divertia muito e logo pegou uma das peças para a exibir à mãe e a todos na sala. O olhar de meu pai diante da cena era indecifrável e minha mãe correu a acudir a sua e em pouco tempo conseguiu tirar da cena o presente inoportuno. A caixa foi parar no quarto de minha avó e tudo serenou. Imagine: dar calçolas de presente numa casa onde sutiã era chamado de 'touca de gêmeos'! |
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