Vinte e nove
29/03/16
Corria o ano de 2007 e, nesse mesmo dia 29, contava minha surpresa ante a voz solitária de uma leitora a reclamar da ausência dessas crônicas esporádicas, assim denominadas ao perceber-me incapaz de as garantir, infalíveis como o pão cheiroso e quente no balcão da padaria. Aquele 29 também parecia vazio de histórias ou fatos dignos de se relatar e passei, então a alinhavar palavras a esmo, como neste momento também o faço aqui. Por isto falei do céu, do azul, da abundância de flores e dos pássaros costumeiros, como agora falo do falado na ocasião. Adiante, concluía em tom patético: "é chover no molhado, repisar como reza a mesma e eterna lengalenga. Não vale parágrafo, quanto mais crônica" ali, pretexto para reprisar alguns versos de uns vinte anos antes daquela data. Na pretensa poesia, descrevia uma espécie de catatonia, atribuída a forças sobrenaturais, obra de Deus ou do diabo, mesmo insinuando o uso de alguma droga ou poção. Hoje, passados 29 anos, tudo mudou. É noite, noite quente e o céu coberto de nuvens omite as poucas estrelas visíveis daqui. Mais cedo, por uma abertura momentânea Júpiter brilhou intenso, mas a dança das nuvens logo o apagou. Volto os olhos para dentro e me assusta o poder da mídia e o quanto a informação pode contaminar.
Com facilidade permitirmos a outrem o comando de nossa nau e com a mesma facilidade adotamos essa ou aquela cor, empunhamos a bandeira de um ou outro grupo e logo estaremos propagando a ideia de um e argumentando com energia contra o outro. Como membro de um país, um partido, um fragmento qualquer me sinto mais forte. A sensação agradável cria dependência. Mal percebo os males de dividir a humanidade e opor um contra outro, criar preconceitos e rótulos ou provocar disputas e antagonismos, apesar de sermos todos seres humanos, irmãos. |
29 Mar 2016 09:35:19 -0700 (PDT) te adoro, meuirmao sem assinatura É recíproco. Wed, 30 Mar 2016 16:12:53 -0300 tudo bonito nesta história... sem assinatura Não sei o que dizer. Acho que minha burrice aumentou... Fri, 1 Apr 2016 09:48:54 -0300 Gostei da pretensa poesia. Triste, mas bonita.. Não sei porque pretensa... Ainda bem que se trata de um texto de 1988... Sat, 2 Apr 2016 09:53:02 -0300 Quando penso em forças sobrenaturais oscilo entre não crer em nada ou crer em qualquer coisa que eu mesma possa imaginar, como possíveis premonições ou qualquer pensamento mágico fantástico e improvável. ai fico nesse impasse: se o sobrenatural existe tudo é possível, se não existe nada é possível além da realidade e da finitude de todas as coisas. sem assinatura Imagino ser esta uma característica essencialmente humana a nos distinguir dos outros bichos. Sempre percebi em mim uma inclinação para admitir "algo maior" ou seja, parecia-me que "Deus" brotava de mim. Olhar a vida ao redor com uma maravilha em cada canto nos deslumbra e deste deslumbramento brota a imagem de alguma coisa superior. Talvez venha daí o impulso para valorizar as intuições, os acasos, as mistificações, o pensamento mágico. Quem sabe o sobrenatural (e aí não o seria) exista em nós? |
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