Interessante
05/12/11
Quando me pedem opinião sobre alguma coisa horrorosa, ela começou, digo apenas 'interessante'. Ao ouvir a palavra, voltou-me imediatamente à lembrança, seu jeito de dizer 'interessante', quando preferiria calar. Demorava-se, então, em pausas e reticências e alongava as sílabas, distanciando-as entre si: "é... in - te - res - saaaaan - te", e depois calava, para não se ver obrigada a violar o mistério do suposto interesse. Refiro-me a Maureen Bisilliat que, entre tantos dons, primava, também, nas habilidades da diplomacia e viria daí, certamente, seu interessante tão interessante. Ela, filha de diplomata! Aprendi com interesse a lição e ela me foi útil algumas vezes, para ocultar uma opinião negativa naquele 'interessante' terminal. Este uso capcioso do vocábulo coteja os significados comuns dos dicionários, onde 'interessante' aparece, quase sempre, com definições positivas, inclusive, aquela que faz referência ao estado da mulher grávida. O tempora! O mores! - ou, como insistia a Ciência Popular, "são os tempos que pasmam os indivíduos". Em minha infância era comum ouvir os adultos se referirem a uma mulher e seu 'estado interessante', para evitar mencionar a gravidez e imaginando enganar, assim, as crianças, sem lembrarem-se de suas próprias infâncias e a inevitável percepção ou intuição de toda malícia no ar, mais palpável que as cegonhas. Os tempos são outros e outros os costumes. Hoje, a gravidez rasgou os véus da falsa decência - talvez, a partir de Leila Diniz com seu barrigão fora do biquíni, nos anos sessenta - e se tornou muito mais que interessante, a nos provocar com o mistério lindo de duas vidas em um único corpo. Se não gostar desta crônica, já sabe, basta dizer: é... interessante. Calamo-nos, eu e você, conhecedores deste novo código, tão interessante. |
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