Lá se vão oito anos. As mãos murchas de agora são mais destras no teclado, o escorrer da água molda o leito do rio e dedos se deformam, se preciso for, para se afeiçoar ao feitio absurdo do teclado. Mãos mais habilidosas, sim, porém incapazes de tecer as sonoras páginas de outrora, pois não dependem delas e, sim, da alma o estofo a pôr em texto a voz do imo. Perdoem-me as louçanias e afetada ênfase acima. Por vias impossíveis de refazer, esbarrei em uma página antiga, uma croniquim de 28 de março de 2002 intitulada 'Rota fatal' e nela me deparei com a reprodução de um texto de André Gide, que acabara de citar em conversa pelo telefone, texto que continuo a achar belo como quando o li pela primeira vez, ao redor dos vinte anos, embora não concorde com tudo que no texto assevera o francês. No fim, segui o link para a 'anterior' e vi ser esta a de número 374, 674 croniquins atrás. Dois números quaisquer para qualquer um; não para mim: o primeiro, número da caderneta do terceiro ano do ginásio e o outro, 674, número da casa da infância, há pouco demolida. Os dois somam 1048, número desta crônica. Mera coincidência, como o acaso de ter pegado, de manhã, o livro "Sincronicidade", de Jung, para eventual releitura - tenho voltado às leituras da juventude. Voltei ainda uma vez à 'anterior' e ouvi um 'Hino antigo', trecho de um descontrole verbal do final dos anos oitenta, encimado por uma pequena obra prima, um desenho de Walter Linsenmaier, do livro Insects of the World, mostrando uma borboleta azul, brasileira, a favorita das bandejas do Pão de Açúcar. Queria apenas dizer que não sei mais escrever como já escrevi e tropecei em minha pouca objetividade. Perco-me como ela a dirigir o carro devagar e a comentar tudo em volta, enquanto eu esperava a batida iminente, mas ela nunca bateu. |
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