Gato e cachorro - constato a coincidência, mera coincidência, de ter calhado em dois dias cinco de novembro as historinhas do gato (uma gata e seu gatinho) e do cachorro, (uma cadela poodle preta). Hoje, todavia se quiser algum bicho precisarei recorrer aos bicheiros e seus representantes mui numerosos nas cercanias.
O dia segue cinzento e úmido e o chuvisco miúdo se nega a parar. As centenas de janelas circundantes se mantêm fechadas e pássaros e bichos de estimação resguardam-se fora do alcance da visão. Pela animação das imagens de satélites se compreende o inexorável e lento desfile das nuvens com origem amazônica e destino atlântico sobre nossas cabeças.
Voltam-me à lembrança cenas protagonizadas por minha mãe. Ao observá-la, já adolescente, acreditava mesmo em sua capacidade de se comunicar com seus bichos. Mais de uma vez a vi ordenar ao gato para caçar um camundongo escondido em alguma fresta e, depois de um tempo, o felino retornar com o roedor entre os dentes. Naquele tempo a morte dos bichos não me incomodava, parecia "natural".
Ela conversava com os cachorros de igual para igual e a mim parecia vivamente existir uma mútua compreensão. Mais tarde, já velhinha, minha mãe foi morar em apartamento e ficou sem gato e cachorro. Fez, então, de sua sala um agradabilíssimo recreio de passarinhos, colocando todos os dias no chão, perto da larga janela, alpiste, quirera, água e, para os beija-flores, o potinho de água açucarada. Ela não sabia viver longe da bicharada e testemunhei muitas, rolinhas, pardais e outros passarinhos fazendo festa naquele "quintal".
Ah, sim, ela mantinha muitos vasos de plantas naquele canto da sala de estar para ficar tudo do jeito que mais lhe agradava. Ontem, sua morte completou 23 anos. Viveu com menos tecnologia e muito mais perto do mundo animal.
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Sat, 5 Nov 2016 15:11:31 -0200
Bela lembrança. O pouco que convivi com ela me deixou essa impressão de paz e compreensão do mundo e da vida. Grande abraço. Ebert
Obrigado, amigo. Abraço forte.
Sat, 5 Nov 2016 17:53:03 +0000
Que lindo Clode!!!! Parabéns, saudades da Emilinha!!!!
Renato imbroisi
Obrigado. Que bom que você gostou. Muita saudade, sim.
Sat, 5 Nov 2016 11:01:34 -0700 (PDT)
nossa Clode me emocionou ela realmente conversava com os animais
sem assinatura
Saudade.
Sat, 5 Nov 2016 17:19:33 -0200
Ahhhhhhhh! Vovó querida! Que gostoso relembrar de seus costumes!!! Obrigada, Clode!
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Querida, verdade, mas continua um pouco nas filhas e neta...
Sun, 6 Nov 2016 09:45:07 -0200
Oi!
Esta me fez lembrar meu tio Renato, irmão da minha mãe e meu padrinho de batismo e de casamento. Era o tio rico da família - não milionário, mas dono de uma firma de engenharia que permitia viver com folga. Tinha uma casa grande em frente ao Clube Pinheiros e depois outra igualmente grande, perto da Cidade Universitária. Quando passo a me lembrar dele - ainda era pequena - ele estava no terceiro casamento e nunca tinha tido filhos.
O que curtia muito, mais até do que um bom whisky, boa comida, sua lancha (enquanto era moço) e um carro transado, eram os bichos e as plantas. As duas casas tinham jardins bonitos, um orquidário e numa delas um tanque de peixes e plantas aquáticas com um chafariz que era um sapo de bronze (ou outro metal, sei lá). E nas duas havia canis (na primeira, também um viveiro de araras). Tio Nato, como a gente o chamava, adorava cachorros grandes (não necessariamente de raça, teve vários vira-latas) e sempre tinha pelo menos sete ou oito de cada vez. Inevitavelmente, havia brigas entre eles., que meu tio apartava com um truque que nunca mais vi alguém usar: espirrava nos focinhos dos briguentos um jato de lança-perfume (acho que naquele tempo ainda não era proiibido). Um dos cachorros que tive depois de me casar era cria da casa dele: um mestiço de pastor que batizamos de Anjo (tinha a pelagem meio dourada).
Tio Nato era uma pessoa afável, divertida e muito generosa: ajudava os irmãos, e foi o único dos cinco que nunca se incompatibilizou com nenhum (a família de minha mãe era super briguenta!). Foi quem construiu as casas sucessivas do irmão e lhe deu emprego na firma quando este se aposentou, e também a casa dos meus pais em Alto de Pinheiros, onde morei desde os cincos anos até me casar. Nunca esquecia do aniversário dos vários afilhados: lembro que quando eu já estava na faculdade ele me deu umas blusinhas de Jersey que passaram a fazer do meu guarda-roupa. E também aprontava algumas com os sobrinhos: no dia em que fiz 14 anos: tio Nato apareceu lá em casa de manhã, eu ainda estava na cama, e começamos a bater papo no meu quarto mesmo ; minha mãe trazia os aperitivos e drinques pra eles, que antes de beber me ofereciam pra provar - lembro de tomar whisky, conhaque e meia-de-seda! (lembra desse coquetel super doce, com leite condensado?). Foi meu primeiro porre.
Nos visitávamos com frequência - primeiro sempre que íamos ao clube Pinheiros, depois em sua outra casa. E ele adorava nos ver tocar violão e cantar (minha mãe era professora de violão, e nós, filhos, também tocávamos e cantávamos - meu irmão acabou virando músico). Eu gostava de canções francesas, e tio Nato chegava a chorar quando me ouvia cantar Et maintenant ou Ne me quittes pas.
Lendo sua crônica, essas lembranças me vieram com imagens, ainda vejo essas cenas. E me veio à cabeça que gostar muito de bichos e ser uma pessoa afável e generosa podem bem estar associados... se bem que há quem diga que quem gosta muito de bichos não gosta muito de gente!
Bjs
Ana
Oi, Ana.
Adorei sua crônica (melhor do que a minha).
Wed, 9 Nov 2016 20:30:41 -0200
... mais uma vez... uma delicadeza só com a Mãe, nossa mãe. Mundo animal é mesmo você, isso sim. beijo. você é um precioso.
sem assinatura
Nossa mãe era adorável e adorava você...
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