Regastein
14/11/11
Em um livro da Life, sobre fotografia, vi uma imagem de uma torcida num estádio onde logo 'descobrimos' um rosto conhecido no meio da multidão: em montagem cuidadosa, o rosto do presidente Kennedy foi superposto ao de um torcedor. A familiaridade com aquele semblante, mesmo em visão periférica, atrai a atenção para aquela face. Nossa capacidade de memorizar e decifrar rostos sempre me surpreendeu. Ontem, procurando por um amigo que não vejo há mais de 40 anos, acabei deparando-me com uma fotografia dele, atual. Não importa quanto tempo transcorreu, o nosso software de reconhecimento facial dificilmente se engana: lá estava ele, o Regastein Rocha, inequívoco como se tivéssemos nos visto ontem. É apenas um palpite, mas este programa de identificação de rostos talvez seja um dos melhores, aperfeiçoado através dos milênios pela Evolução. Eis o rosto que reconheceria de pronto se visse, por acaso, sem o procurar. Espanta-me, ainda, o quanto dele me traz esta fotografia!
É apenas um rosto, um entre sete bilhões, mas os 'nossos' estão todos lá, em algum banco de dados maluco neste emaranhado de sinapses de nossa maravilha maior. Cada cérebro, por trás de cada face, arquiva uma enormidade de informações, dados que só ele sabe, segredos bobos, receitas pessoais, inconfidências inconfessáveis e uma vastidão de saberes à toa - toda a miscelânea que faz cada um ser como é. Essa maravilha máxima da vida, capaz de criar um satélite ou um botão, de repente, queima como uma lâmpada, apaga. Segundo o U. S. Census Bureau, a cada dia, mais de 152 mil cérebros se apagam levando com eles a infinidade de pequenos fatos, pequenos saberes que uma cabeça encerra. "Nem tudo está perdido quando resta uma esperança", exclamaria o caçador de Chapeuzinho: enquanto vive, um cérebro semeia e alguma semente sempre brotará. Nota: o Regastein está ligado ao início da enfoco. |
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